Investir é como navegar. Você pode planejar uma rota perfeita, mas o vento e as correntes podem mudar sem aviso. Quando isso acontece, não significa que a escolha inicial foi errada, mas que agora é preciso ajustar as velas para seguir o melhor caminho.
Todo investidor, em algum momento, já fez um investimento que não foi bem-sucedido, mesmo na renda fixa. Ninguém gosta de perder, mas o desgaste emocional com este investimento pode ser tão grande que acaba levando a decisões ainda piores. O medo do erro e a insegurança podem transformar um revés pontual em um ciclo de prejuízos ainda maiores.
É importante entender que um investimento mal sucedido não significa, necessariamente, que o processo de decisão inicial foi errado. Muitos se culpam excessivamente por um resultado negativo, sem considerar que qualquer decisão é tomada com base em um cenário que pode mudar. Ter essa clareza ajuda a lidar melhor com perdas, evitando reações impulsivas e permitindo que as decisões futuras sejam mais racionais.
Diante de um investimento que perdeu valor ou que não foi como esperado, muitos investidores tomam uma atitude drástica: vendem tudo apenas para se livrar da sensação de erro. Mas isso pode piorar ainda mais o resultado. Quando o cenário muda, a melhor atitude não é agir por emoção, mas reavaliar a situação com base em três perguntas fundamentais.
A primeira pergunta é: No novo cenário e preço, esse ativo ainda pode ser um bom investimento? Imagine que você investiu em um mercado de ações esperando valorização, mas o mercado começou a se deteriorar e os preços caíram. O que antes parecia uma excelente decisão agora precisa ser reavaliado. Se o cenário mudou para pior e as perspectivas futuras não são boas, vender pode ser a decisão certa. Mas se o ativo continua sendo atrativo dentro da nova realidade e novo preço, manter pode ser mais vantajoso do que realizar o prejuízo.
A segunda pergunta é: Se você vender agora, resultará em mais prejuízos? Muitos investidores vendem na baixa apenas para se livrar do desconforto emocional de ver um ativo abaixo do CDI ou no vermelho. Mas sair no pior momento pode significar além de consolidar um prejuízo que poderia ser revertido, perdas adicionais por venda antecipada. É essencial avaliar se a venda agora realmente protege o patrimônio ou se apenas transforma uma perda temporária em definitiva.
A terceira questão é: O ativo para o qual deseja migrar tem capacidade de cobrir essa perda e ainda gerar um retorno melhor? Muitas vezes, a troca impulsiva de um investimento ruim por outro ativo acontece sem uma análise criteriosa. Antes de vender, é fundamental ter certeza de que a nova escolha tem um potencial real de compensar a perda e oferecer um retorno mais atrativo. Caso contrário, a troca pode ser apenas uma mudança de problema, sem resolver a questão principal.
Se essas perguntas não forem respondidas de maneira racional, o investidor corre o risco de tomar uma decisão baseada apenas no desconforto de ver que o cenário não foi como desejado, e não em fundamentos sólidos. O ciclo emocional de medo e arrependimento pode se repetir, levando a novos erros e reforçando a insegurança na hora de investir.
Tomar decisões financeiras exige clareza e adaptação. O cenário muda, e com ele, a estratégia também deve mudar. Lidar com perdas faz parte do processo, mas o que diferencia um bom investidor não é evitar erros, e sim saber como reagir a eles de forma racional e calculada. No mercado, errar faz parte do jogo. O que define um grande investidor não é evitar perdas, mas saber transformá-las em aprendizados para decisões mais inteligentes.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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