Painel S.A.: Somos o Sebrae dos profissionais do sexo, diz empresa

há 6 dias 3

Samuel Ongaratto, 42, já foi secretário de segurança pública de Pelotas (RS), mas sempre foi ligado à área de tecnologia e negócios. Hoje, ele é sócio da Fatal Model, plataforma que reúne anúncios de cerca de 50 mil garotos e garotas de programa de todo o país —uma Vargem Grande Paulista, na Grande São Paulo.

O negócio movimenta R$ 100 milhões por ano só com a receita dos anúncios e da publicidade. A expansão ocorreu com um importante aliado: o futebol. A companhia se tornou um dos grandes anunciantes de times das séries A, B e C do Brasileirão.

Ongaratto afirma que a empresa não cobra um centavo dos programas e que a empresa negou duas ofertas de compra. Na semana passada, o grupo formalizou a entrada em 14 países da Europa, onde busca investidores.

Como as bets, vocês entraram pesado com anúncio em futebol. Por quê?
A nossa missão é desmistificar o mercado de acompanhantes, uma profissão digna como qualquer outra. É preciso capilaridade para promover esse debate.

Algo já mudou?
Existe resistência e ela é significativa. Chutaria que, hoje, é meio a meio. Tem muito clube que a gente não patrocina, mas que, diariamente, entra em contato [pedindo patrocínio] e há os times maiores, com mais agentes que resistem mais ao patrocínio da Fatal. A gente entende que isso é normal. Nosso intuito não é mudar a cabeça de ninguém, é sempre trazer informação. Hoje já temos anúncios na RBS, afiliada da Globo, no Pretinho Básico, na Rádio Gaúcha. Estamos na Record, na RedeTV!, nos comerciais do Masterchef, da Band. Esse movimento de abertura começou com os anúncios no futebol.

Vocês são um Uber do sexo?
No marketplace, a gente separa as empresas em duas categorias. As transacionais são como o Uber, o Airbnb, em que o dinheiro da transação passa pela plataforma. Nós somos muito mais uma OLX [não transacional].

Fazem algum tipo de controle de anúncios para evitar abusos?
Não censuramos nada, mas temos uma orientação. Fazemos propaganda de prevenção a DSTs, vídeos sobre planejamento de vida e financeira para ter uma aposentadoria, sobre como prestar um serviço de maneira mais segura. A gente se posiciona como o Sebrae dos acompanhantes. Você pode verificar isso até na nossa forma de fazer propaganda. Não objetificamos o corpo dos acompanhantes, não sensualizamos na propaganda. Usamos uma linguagem formal para que as pessoas tenham sucesso e tranquilidade na profissão.

Promovem educação financeira para eles?
Sim. A gente faz essa discussão. Se eles já pensaram no que vai acontecer se sofrerem um acidente e não puderem mais desempenhar; como se sustentarão quando ficarem velhos. Porque o acompanhante, como o médico e o professor, vende a sua hora. A autonomia dele é um dos pilares do nosso negócio.

De onde vem o faturamento?
Temos três formas de monetização. Cerca de 80% do faturamento [de cerca de R$ 100 milhões por ano] vem de conteúdo postado por acompanhante para ter um destaque. São vários planos, que variam de R$ 29 a R$ 400 por mês. Outra fonte é a taxa extra de assinantes que pagam para não ver propaganda enquanto navegam pelos anúncios. E a terceira é a publicidade em geral, de bets, empresas de dating [encontros], preservativos, produtos de beleza, entre outros. No mês passado, tivemos 22 milhões de usuários únicos, isso dá quase 10% da população brasileira.

Consegue estimar quanto os programas geram em receita para os profissionais?
Estima-se que, no mundo, [o sexo] movimente US$ 45 bilhões por ano. Não temos essa informação no Brasil. Sabemos que existem cerca de 1,5 milhão de acompanhantes e temos 50 mil cadastrados na plataforma.

As mulheres são maioria?
Em 2022, tínhamos 80% de mulheres, 13% de pessoas trans e 7% de homens. Hoje, os homens já chegam a 18%, aproximadamente.

O que explica essa mudança?
Existe um sentimento de que o conservadorismo diminuiu. Hoje, a gente está na Band, na RedeTV!, na Record, patrocinamos vários times, nas séries A, B, C [do Brasileirão]. Há também mais conscientização sobre essa profissão e a mulher se sente mais à vontade para contratar um acompanhante homem.

O profissional do sexo faz por gosto ou por que precisa?
Muitos atrelam a profissão à falta de opção [do profissional] no mercado de trabalho. Não tem nada a ver. A gente tem uma presença muito grande de pessoas com grau superior, mais de 29 anos, algumas com filhos. Há aqueles que buscam a profissão por missão e outros como complemento de renda para realizar um sonho, como comprar uma casa ou um carro.

A sua empresa chegou à Europa. É com dinheiro próprio ou têm parceiros lá?
A internacionalização começou há três meses. Temos metas de crescimento no Reino Unido e queremos estar em muitos outros países. Para isso, buscamos investimento com fundos e com parceiros.

Já receberam proposta de compra?
Duas. Uma foi de um fundo e outra, de um investidor europeu. Negamos ambas porque consideramos abaixo do valor visualizado para o negócio.

Que é de quanto?
A gente não abre os números. Mas posso dizer que a Fatal cresce cerca de 100% ao ano desde 2016, sempre com capital próprio dos sócios.

Vão abrir capital?
Já conversamos sobre isso, mas hoje não é uma pauta em discussão. A capitalização vem de fundos de investimento e de investidores.


Raio-X | Samuel Ongaratto, 42

Administrador formado pela Universidade Católica de Pelotas (RS) com mestrado na área pela Unisinos e pela FGV. Começou nas startups como coordenador do Centro de Incubação de Empresas da Região Sul e foi vice-presidente do Parque Tecnológico de Pelotas. É sócio e diretor de negócios da Fatal Model.

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