A XP afirmou à Justiça que a apresentadora de TV Márcia Goldschmidt bateu à porta errada ao tentar responsabilizá-la por prejuízos de US$ 3 milhões (cerca de R$ 17 milhões) em suas aplicações.
Em manifestação protocolada nesta segunda (23), a corretora disse que nem sequer é parte no contrato firmado entre Márcia e a Sartus Capital —empresa que efetivamente teria prestado os serviços financeiros.
No início de setembro, Márcia enviou uma notificação judicial à corretora, acusando-a de ter sido mal orientada por um de seus consultores na Europa, o que teria causado as perdas.
Em resposta, a XP sustenta que a apresentadora finge incapacidade para lidar com investimentos e, ao expor o caso publicamente, pratica assédio para conseguir "alguns tostões". Adianta que poderá acioná-la judicialmente.
A corretora disse que chegou a ter vínculo com a Sartus no passado, mas ele foi desfeito e todas as alterações societárias foram comunicadas ao mercado e à apresentadora particularmente.
"Márcia, como uma investidora qualificada, jamais poderia alegar ignorância a respeito", escreve a XP nos autos.
A corretora afirmou ainda que a apresentadora se rotula como "frágil e vulnerável" para fingir "hipossuficiência [incapacidade] em investimentos complexos", mas que essa versão é incompatível com sua própria declaração no perfil de investidora.
A XP respondeu que apurou junto à Sartus que a apresentadora declarou ter um patrimônio de US$ 20 milhões e admitiu ciência dos riscos e consequências de ser uma investidora qualificada.
"A XP também apurou que Márcia esteve ciente e aprovou as operações de investimento, participando ativamente das suas escolhas e mantendo comunicações constantes com o Sr. Sven Blake, sócio da Sartus, não apenas por e-mail, mas também por telefone e WhatsApp", disse a XP.
A manifestação, enviada à 32a Vara Cível de São Paulo nesta segunda (23), termina com um aviso de que a briga na Justiça pode lhe causar ainda mais prejuízos.
A corretora adianta que buscará reparação por eventuais danos de imagem sofridos com a exposição.
"À XP não podem ser imputadas quaisquer consequências do malogro dos investimentos assessorados nesta parceria", escreve a corretora, representada pela Tannuri Advogados. "A XP informa que não admitirá a proliferação de inverdades que a vinculam a tal operação e que buscará os meios cabíveis para responsabilizar a notificante por todos os danos ocasionados ao grupo XP. "
Márcia diz que perdeu o trabalho de uma vida
Consultada, a apresentadora não respondeu até a publicação desta reportagem.
Em entrevista recente à Folha sobre o caso, Márcia diz que mantinha seus investimentos em outra instituição financeira até 2010, quando foi convencida a ir para a XP após seu assessor no banco migrar para a corretora.
Ela disse ter sido apresentada à estrutura da XP na Europa, que cuidou de tudo, desde a abertura de contas até a criação de holdings em Malta, uma espécie de paraíso fiscal.
A corretora teria escolhido um preposto na Europa para atender a apresentadora. Segundo ela, toda a manutenção dessas operações era feita pela XP.
Painel S.A.
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O primeiro grande prejuízo, segundo ela, veio em 2020, numa operação de remessa de recursos para as contas na Europa. Para fazer a transação, era preciso fechar um valor de câmbio, e o consultor teria optado por aguardar um momento melhor.
Com a pandemia, o dólar só ficou mais desfavorável e o consultor a convenceu a fazer uma operação de câmbio, que culminou em uma perda ainda maior.
"Eu perdi, [perdi] o trabalho de uma vida", disse Márcia à Folha.
Com Diego Felix