A Abividro (Associação Brasileira das Indústrias de Vidro) afirma que o Brasil sofre de um "surto de importação" e diz que mais setores sofrerão economicamente se o governo não impor condições de igualdade de competição contra produtos que chegam ao país, vindos principalmente da Ásia.
A manifestação das empresas do setor veio após o Painel S.A. mostrar que um grupo de varejistas de utilidades domésticas, como Havan e Riachuelo, questionam na Camex (Câmara de Comércio Exterior) o pedido da Abividro para elevação das alíquotas de 18% para 35% em cinco categorias de vidros, como copos, taças, objetos de vidro e vidros planos.
Para a associação, o surto está causando desequilíbrio no mercado nacional e impactando diretamente o consumidor final e trabalhadores da indústria, com postos de trabalho cada vez menores.
Dados do Comex Stat apontam que no acumulado de janeiro a setembro deste ano as importações de taças subiram mais de 168% na comparação com o mesmo período de 2023. No caso de copos, a alta foi de 84,5%, enquanto objetos de vidro para mesa e vidros planos saltaram 107%.
Presidente-executivo da Abividro, Lucien Belmonte avalia que o sistema de importação brasileiro não cria formas de proteger a indústria nacional, que fica exposta à entrada de produtos com qualquer qualidade e preço.
"Temos uma preocupação em defender o mercado nacional e defender a capacidade da indústria aqui. O dia que uma indústria energointensiva [empresas que demandam muita energia] ou intensiva em capital fecha uma fábrica, ela não abre nunca mais", afirma.
Para ele, o problema no setor é claro: entre 2022 e 2023 o Brasil saiu de uma importação de 7 mil toneladas de vidro plano para 124 mil toneladas.
Belmonte critica varejistas que reclamaram da competição de players asiáticos no mercado da moda, mas agora são contra a elevação das tarifas de importação de outros segmentos que sofrem com o mesmo tipo de problema.
No caso das varejistas, o governo criou a chamada "taxa das blusinhas", cobrando imposto de produtos importados acima dos US$ 50. A medida foi tomada após intensa mobilização das empresas do setor, que alegaram desequilíbrio competitivo contra players asiáticos como Shein, AliExpress e Shopee.
"O imposto de importação não é um imposto arrecadatório. Ele não está lá para você arrecadar. Ele existe para compensar as condições competitivas entre o produto nacional e o produto importado. Não estamos pedindo subsídio, nem pedindo para fechar o mercado. Queremos condições competitivas entre a produção nacional e o produto importado", diz Belmonte.
Para Camicado, Full Fit, Havan, Ingá, Rojemac e Riachuelo, que entraram na Camex contra a Abividro, o pleito do setor de vidros vai beneficiar somente uma empresa no país, a Nadir Figueiredo. Belmonte afirma que além da Nadir, a Wheaton é a única companhia que opera no setor, um caso de concentração de mercado replicada em outros países do mundo, como França e Itália.
Ao todo, a Abividro e a Nadir fizeram cinco pedidos de aumento de alíquota na Camex. Dois deles já estão próximos de análise no plenário —o que deve acontecer nos próximos dias.
Fábio Pupo (interino) com Diego Felix