Fintechs de crédito afirmam que as novas regras do consignado privado, que o governo deve lançar no próximo ano, retiram a competição do mercado e penalizam os tomadores endividados, que serão obrigados a aceitar juros mais elevados para ter acesso a empréstimos.
O governo aposta nesse novo produto financeiro para substituir o crédito com garantia no saque-aniversário do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
Projeções da Creditas, uma das maiores desse segmento, indicam que, se houver tabelamento dos juros dessa modalidade de crédito em até 2%, somente as instituições que já operam com o consignado público via INSS terão condições de operar na fase inicial.
Atualmente, o consignado privado é oferecido por todas as instituições financeiras que negociam livremente com os empregadores privados. Dados do Banco Central indicam que há R$ 41,2 bilhões na carteira ativa dos bancos com essa modalidade de crédito.
"Além de ser uma prática que não estimula a competitividade do mercado, todo o ecossistema de fintechs, justamente aquelas estimuladas pelo Banco Central em inovar para oferecer melhores possibilidades de crédito, estaria eliminado deste mercado", diz a Creditas em nota.
Segundo a fintech, só operariam o sistema as instituições que já estão conectadas ao sistema Dataprev, oferecendo o consignado público.
A Creditas, que possui R$ 6 bilhões em mais de 13 milhões de operações de empréstimos, prevê ainda que 90% da oferta de crédito para os brasileiros endividados desaparecerá com a trava de até 2% de juros sobre as operações, como se cogita.
"O teto também irá prejudicar o volume de crédito concedido ao trabalhador brasileiro em cada contrato", diz a fintech. "Hoje, o ticket médio deste produto gira em torno de R$8 mil. Da forma como o projeto está sendo discutido, o ticket poderá cair para menos de R$1 mil. Ou seja, qualquer valor adicional necessário, deverá ser buscado nas opções de crédito com juros altos e beneficiará o setor de empréstimos sem garantia."
Painel S.A.
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Uma das saídas, ainda segundo a empresa, seria mesclar as taxas de juros. Um eventual teto de taxa deveria ser aplicado ao valor garantido pelo FGTS do trabalhador e o restante ficaria livre para negociação sendo precificado de acordo com o risco do tomador.
"É necessário diferenciar entre um crédito com garantia de FGTS que poderia ter taxa regulada, e um crédito com garantia de salário, que não pode ter taxa regulada porque o salário como garantia no setor privado não é permanente", diz a empresa.
Com Diego Felix