Fatores pontuais e normalmente voláteis, como, por exemplo, passagens aéreas, com alta menor do que a prevista, contribuíram para moderar o IPCA-15 de dezembro. Mas a qualidade dos movimentos de preços, dentro da cesta do índice, não foi boa, fazendo com que o resultado não refletisse bem as pressões sobre a marcha dos preços.
O índice de difusão, que mede o número de itens entre os quase 400 da cesta do IPCA que sofreram aumentos no mês, saltou para 61,85%, no IPCA-15 de dezembro, acima dos 57,5% de novembro e bem mais alto do que os 51,72% de dezembro de 2023.
Também a média dos núcleos — indicadores da inflação mais estrutural, pois não são computadas variações sazonais ou inesperadas de preços —, com alta de 0,41% em dezembro, embora estável em relação a novembro, ficou bem acima do 0,18% de dezembro de 2023. Calculada pela média móvel de três meses, anualizada, a média dos núcleos subiu para 5,4% (4,6% em novembro), denotando pressões inflacionárias à frente.
Refletindo a economia aquecida, em que o mercado de trabalho se mostra favorável, com baixa taxa de desemprego e resistência à redução de salários, a demanda mais forte pressionou para cima os preços no setor de serviços. A evolução de preços no setor de serviços é observada mais de perto pelo Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, porque revela pressões inflacionárias mais diretamente produzidas pelo ritmo da atividade econômica, sem tantas influências externas.
A previsão do economista Fábio Romão, experiente especialista em acompanhamento de preços da LCA Consultores, é de que a alta de preços dos serviços subjacentes — uma espécie de núcleo do setor de serviços — bata em 8,2% em 2024. Nas primeira estimativas de Romão para 2025, a pressão dos serviços sobre a inflação não deve arrefecer, mesmo com taxas básicas de juros nas alturas de 15% ao ano, devendo chegar ao fim do ano que vem com elevação acima de 9%.
Já no caso da alimentação, a expectativa é de algum alívio, não intenso, na alta de preços em 2025. Para 2024, a estimativa de Romão é de alta 8% (mais 8,7% no sub-grupo "alimentação no domicílio), com elevação de 1,6% em dezembro. Em 2025, dentro da previsão de inexistência de eventos climáticos desfavoráveis e inesperados, o índice pode avançar em torno de 5%.