As críticas do CEO da Meta, Mark Zuckerberg, a "decisões secretas" de tribunais da América Latina fazem parte de um jogo retórico, porque quem têm tribunais secretos são as plataformas, afirma Marie Santini, diretora do NetLab, laboratório de pesquisa em desinformação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
"Em nenhum momento ele fala de transparência. E a cada ano a Meta diminui a transparência e a possibilidade de pesquisadores observarem o que acontece dentro da plataforma", afirma.
A pesquisadora avalia que se o objetivo fosse enfrentar a censura, a plataforma deveria aumentar a transparência para que fosse possível saber como, quando e onde a moderação, remoção, curadoria de conteúdos —pagos ou não— acontece. "Mas a declaração dele vai no sentido contrário", diz.
"Zuckerberg está fazendo um jogo retórico. Diz que países latino-americanos têm tribunais secretos, mas quem têm tribunais secretos são as plataformas, que nunca foram transparentes sobre sua equipe de moderadores, as regras e os motivos da moderação e da não-moderação", continua Santini, que afirma que as empresas impedem que seja possível o escrutínio e a observação sobre os conteúdos moderados.
A diretora do NetLab também argumenta que, sem transparência dessas informações, o que existe é "o monopólio da censura pela plataforma, com retórica de liberdade para manter sua imunidade perante as leis locais."
Santini vê ainda uma declaração de guerra à imprensa. "Zuckerberg deixa claro que seus grandes inimigos são os meios de comunicação de massa e os governos, que ele acusa de serem agentes de censura", diz.
"Mas, na verdade, ele quer acabar com a imprensa, que torna públicas as barbaridades que acontecem na plataforma e qualquer possibilidade de regulamentação, para não terem nenhuma responsabilidade sobre os males que seu negócio podem causar na sociedade."