Oscar 2025 deixa declarações políticas de lado em nova era de Donald Trump no poder

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Foi uma piada jogada no ar, feita no meio arrastado e cansativo da cerimônia, pouco antes do prêmio de Melhor Trilha Sonora. "‘Anora’ está se saindo bem esta noite", observou o apresentador do Oscar, Conan O’Brien. "Acho que os americanos estão animados para ver alguém finalmente enfrentar um russo poderoso." O’Brien costuma prolongar suas piadas com expressões exageradas depois de contá-las, mas, dessa vez, seguiu em frente rapidamente. O mesmo fez o show.

As coisas eram diferentes na última vez que Donald Trump assumiu o cargo. Em 2017, Jimmy Kimmel, o apresentador, provocou Trump implacavelmente, zombando de seus membros do gabinete, filha, políticas e vício no X (então ainda chamado Twitter). As estrelas usaram fitas azuis em apoio à União Americana pelas Liberdades Civis, um grupo de vigilância que lutava contra a agenda nascente de Trump. Gael García Bernal, ator mexicano, declarou-se "contra qualquer forma de muro que queira nos separar" (Trump fez campanha prometendo construir um muro na fronteira sul, que o México pagaria).

Embora 2017 possa ter sido especialmente tenso, as estrelas há muito tempo usam o Oscar para fazer declarações políticas. Vencedores já aproveitaram seus discursos para protestar contra as guerras dos Estados Unidos no Vietnã e no Iraque, além de expressar apoio a imigrantes e à legislação sobre mudanças climáticas. No início dos anos 1990, atores usaram fitas vermelhas em apoio às pessoas com AIDS.

O conteúdo político foi mais ralo este ano. Bill Kramer, chefe da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que organiza o Oscar, afirmou que queria "absolutamente" que a cerimônia evitasse temas políticos. As estrelas atenderam ao pedido. "Emilia Pérez", um musical sobre um chefe de cartel mexicano que passa por uma cirurgia de redesignação de gênero para se tornar uma mulher, liderava com 13 indicações, mas levou apenas dois prêmios: Melhor Canção Original e Melhor Atriz Coadjuvante, vencido por Zoe Saldaña. Ela mencionou suas origens imigrantes, mas não fez comentários sobre o governo atual. "O Aprendiz", um filme crítico a Trump que teve dificuldades para encontrar um distribuidor nos EUA por medo de retaliação do então ex-presidente, recebeu duas indicações, mas não ganhou nenhuma.

Um punhado de vencedores fez referências oblíquas ao "caos que estamos vivendo" (a orquestra rapidamente a tirou do palco) e à importância de "não deixar o ódio sem controle". Mas até os dois encantadores iranianos que subiram ao palco para receber suas estatuetas de Melhor Curta-Metragem de Animação foram graciosos e inofensivos. Os palestinos e israelenses que fizeram "No Other Land", sobre Israel tomando terras em uma comunidade da Cisjordânia, discordaram educadamente da política americana e israelense, mas isso era esperado dos criadores de um documentário político.

Os aplausos mais sustentados da noite não vieram em resposta a uma declaração política, como era comum há oito anos, mas a uma defesa fervorosa de ver filmes nos cinemas oferecida por Sean Baker, que fez "Anora" e levou para casa Oscar incluindo Melhor Filme, Diretor e Roteiro Original. Mikey Madison, a protagonista de 25 anos do filme, merecidamente ganhou o prêmio de Melhor Atriz.

Os prêmios de 2017 anteciparam uma era de produções cinematográficas com consciência social. Os prêmios deste ano parecem anunciar algo mais próximo da mudança que acompanhou a ascensão de Ronald Reagan há 45 anos. Os eleitores americanos deixaram suas opiniões claras nas urnas: Reagan venceu em 44 estados em 1980 e em 49 em 1984. Os estúdios seguiram o embalo. Os filmes críticos e conspiratórios dos anos 1970, como "Chinatown", "A Conversação", "O Franco Atirador" e "Três Dias do Condor", deram lugar ao patriotismo descomplicado de "Rambo" e "Top Gun".

Desta vez, pode haver algo mais sombrio em jogo: o medo. Um experiente executivo da mídia prevê: "A enorme hostilidade que Hollywood demonstrou contra Trump e o trumpismo de 2016 a 2020 e de 2020 a 2024 —será que isso será atenuado porque as pessoas percebem que seus interesses comerciais estão em risco? Com certeza. Você pode intimidar pessoas que têm responsabilidades e acionistas."

Ninguém quer ser auditado ou ver sua fusão fracassar. Algumas histórias simplesmente não serão contadas. Como refletiu um produtor veterano: "Se alguém viesse até mim com uma história pessoal sobre uma família americana que chegou aqui há 35 anos vinda da Venezuela, e a mãe... não atende mais a porta porque acha que Trump vai mandá-la de volta... essa é uma história interessante para mim. Mas eu não chegaria perto dela, porque ninguém vai produzir."

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