O que pode acontecer com a carreira de Fernanda Torres após a campanha do Oscar

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Ainda que tenha perdido o Oscar de melhor atriz na noite deste domingo, Fernanda Torres já é queridinha de Hollywood. Ela cumpriu uma agenda árdua para a divulgação de "Ainda Estou Aqui" nos últimos meses e, apesar de ter sido preterida por Mikey Madison, de "Anora", veio conquistando diretores e produtores americanos que a podem escalar para futuras produções.

Com uma careira prolífica, ela provou dominar todos os gêneros ao equilibrar papéis cômicos, caros ao público brasileiro, e dramas exigentes, como "Eu Sei que Vou te Amar", "O que É Isso, Companheiro?" e, agora, "Ainda Estou Aqui", que a lançaram ao mundo.

O caso de Torres é especial. Outras atrizes latino-americanas que seguiram carreia internacional já moravam nos Estados Unidos antes da indicação ao Oscar, penando para alcançar papéis de protagonismo, e chegaram ao prêmio com filmes americanos.

É o caso de Salma Hayek, que em 2003 concorreu à estatueta de atriz por "Frida". Ela já havia feito "Um Drink no Inferno", de Quentin Tarantino, e o faroeste "A Balada do Pistoleiro". Ana de Armas, última latina a concorrer antes de Torres, também já tinha carreira em Los Angeles quando competiu com "Blonde", sobre Marilyn Monroe.

Catalina Sandino Moreno não tinha experiência prévia em Hollywood quando concorreu com o colombiano "Maria", em 2005. Foi cooptada, mas relegada a papéis menores em filmes de gênero, como policiais. Foi como Yalitza Aparicio, que não estrelou filmes americanos depois da comoção gerada por sua indicação com "Roma", de Alfonso Cuarón.

Mas elas todas passaram pela corrida discretamente, diferente de Fernanda Torres, que cativou a simpatia americana com desenvoltura e piadas em programas de auditório, ensaios fotográficos e entrevistas a alguns dos jornais e programas de televisão mais importantes dos Estados Unidos. Foi capa da Variety e da The Hollywood Reporter —que afirmou que a brasileira já era uma vencedora, mesmo sem a estatueta, por levar o cinema brasileiro tão longe.

Sua mãe, Fernanda Montenegro, não chegou nem perto de causar o mesmo rebuliço em terras estrangeiras há 26 anos, quando foi a primeira latino-americana a concorrer na categoria de melhor atriz com um filme não falado em inglês.

Mas Torres chegou aos holofotes em tempos mais propícios para brasileiros em Hollywood, com a indústria mais interessada em artistas não americanos. Rodrigo Santoro e Alice Braga, por exemplo, são nomes conhecidos em Los Angeles e contam com vários blockbusters no currículo, como "300" e "Esquadrão Suicida".

Recentemente, Seu Jorge e Gabriel Leone fizeram longas assinados por diretores renomados, como Wes Anderson e Michael Mann, e Wagner Moura foi a estrela de um dos filmes mais ambiciosos do ano passado, "Guerra Civil" —o ator se mudou para os Estados Unidos, inclusive.

Torres já disse que não pretende tentar a vida em Los Angeles. Ela chegou ao Oscar com uma carreira muito mais consolidada em seu país de origem do que

Salma Hayek, Ana de Armas e Catalina Sandino Moreno. Sua trajetória lembra mais a de Marion Cotillard, que já era querida na França quando conquistou os Estados Unidos durante a campanha de "Piaf" para o Oscar —ela, inclusive, foi coroada melhor atriz.

Cotillard ainda é um rosto popular em produções francesas, mas vem estrelando vários filmes americanos desde a sua vitória.

Como sua mãe, Torres demonstrou estar mais interessada em voltar a trabalhar no Brasil, onde já tem uma carreira consolidada. A decisão combina com o seu desejo de contribuir com a cultura brasileira, uma espécie de ideal que ela cultiva desde a juventude.

Ela afirmou, depois de vencer o Globo de Ouro de melhor atriz, algo que pegou todos de surpresa, que não separa carreira internacional e nacional e que faria um filme americano apenas se fosse seduzida pelo papel. No domingo, em entrevista no tapete vermelho do Oscar, disse que adoraria participar de um remake de "O Jovem Frankenstein".

Segundo o produtor Rodrigo Teixeira, a versatilidade de Torres pode levar a atriz a qualquer tipo de papel que ela seja convidada a representar, em qualquer lugar.

A atriz pode, ainda, seguir os passos de Isabelle Huppert, que, vale lembrar, jamais ganhou um Oscar, mesmo sendo considerada a diva do cinema mundial. Apesar de participações pontuais em Hollywood, a francesa priorizou filmes de seu país, onde já era considerada uma das primeiras damas da atuação e sempre pôde escolher os papéis que desejava.

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