Opinião - Vinicius Torres Freire: Lula mostra que não vai mudar, oposição se anima com horrores de Milei e Trump

há 1 dia 2

Gleisi Hoffmann vai liderar as negociações do governo com o Congresso e, parece, de alianças para a eleição de 2026. Vai para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI). A nomeação causou desânimo e consternação entre adeptos, amigos e críticos do governo.

Não se sabe com base em quais razões, essas pessoas esperavam que Luiz Inácio Lula da Silva reorientasse políticas e programas, o que ficaria evidente na reforma ministerial. Gleisi na SRI significa mudar para que tudo continue na mesma, sob o lulismo-petismo de estrita observância, pelo menos. Ou poderia ser mais, como se especula. Seria sinal de que Lula 3 vai ser mais conflituoso e isolado. No limite, Lula jogaria mais gasto e crédito nas caldeiras econômicas a fim de se reeleger.

No entanto, a possibilidade de mudança definhava desde meados de 2024, quando terminou a primeira parte de Lula 3 ou, pelo menos, do seu plano de cobrar impostos a fim de compensar o grande aumento de gasto, que fizera a descoberto desde antes da posse. Começava a revolta contra tributação extra, liderada então por ricos, agora disseminada entre pobres, o que tornou o aumento de receita politicamente inviável. Para piorar, o governo tomara medidas fiscais que causaram mais descrédito. Tal crise teve sequelas econômicas, como mais juros e inflação.

No fim de novembro, a mudança estava moribunda. O governo podou o plano fiscal de Fernando Haddad. No final de janeiro, Lula dizia que não haveria mais medidas fiscais relevantes (na mesma entrevista, afirmava que Gleisi era ministeriável). Desde então, o presidente reafirma que sua política é colocar mais dinheiro na mão do povo, que daí vem o crescimento. Promete comida barata; critica "atravessadores", conversa morta há 30 anos. Foi o segundo fim de Lula 3.

Folha Mercado

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Em junho, se dizia nesta coluna, sobre o primeiro fim de Lula 3, que o problema era antigo. Que Lula: 1) desconsiderou até a frentinha ampla que o elegeu. Não fez governo menos petista em ideias, quadros e ações, em articulações sociais e políticas ou em programa econômico mais convencional. Perdeu apoios; 2) não entendeu que lidava com o Congresso mais direitista da história; 3) não aproveitou o otimismo inicial até de "o mercado", que derrubava juros em fins de 2022, e ampliou o gasto de modo imprudente e precoce; 4) não tinha planos de reformas (segurança, saúde, ambiente) e, pois, de esperanças novas.

Nada mudou em dois anos e dois meses. Há o risco, ora exagerado, de que aumente a dose de seu programa de dar esteroides à economia, o que não vai funcionar, pois o efeito colateral seria imediato.

Um possível sucesso da isenção do IR e do novo consignado pode render pontos de popularidade. Afora milagres de crescimento da popularidade, porém, vai ser difícil encarar a coalizão oposicionista que já se forma, social e política, por alto e por baixo, no eleitorado. Pode ser "frente ampla", de ex-aliados centristas de Lula a bolsonaristas, uns preocupados com a crise fiscal séria, outros pensando longe, muito além do "empreendedorismo". Parte da elite e direita se encantam com "sucessos" de Javier Milei e "novidades" de Donald Trump (desmonte de Estado e proteção social com motosserras, com a ajuda de marretadas em limites legais ou constitucionais).O Brasil social, político e cultural mudou. Podres do mundo fazem sucesso de público. Lula parece fora do ar.

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