Na última coluna de 2023 escrevi: "O crescimento deve ser de 1,5%, a inflação de 4%, e o câmbio deve andar de lado. Uma grande dúvida refere-se ao ponto terminal da taxa Selic. Penso que teremos, em dezembro de 2024, juros na casa de 9,5%. Me parece que o presidente Lula escolheu repetir em seu terceiro mandato a combinação de política econômica que vigorou no seu segundo mandato: política fiscal mais frouxa e política monetária mais apertada. Assim, devemos ter inflação rodando a 4% e Selic a 9,5% em 2025 e 2026. O juro real na casa de 5,5% ao ano será necessário para que a inflação não se descole. A grande dúvida para o cenário deve-se à insustentabilidade da política fiscal, que continuará a pesar sobre nós em 2024".
O ano foi caracterizado por um cabo de guerra entre a política fiscal expansionista e a política monetária contracionista. Achava que esta venceria aquela. Ocorreu o oposto. A economia cresceu 3,5% em 2024, 2 pontos percentuais (p.p.) a mais do que eu esperava, e a inflação de 5% será 1 p.p. maior. Dado que os juros perderam a parada, a Selic teve que se elevar.
A meta de superávit primário, um déficit de até R$ 29 bilhões, será atendida. No entanto, se considerarmos os gastos com a cheia no Rio Grande do Sul, o pagamento de precatórios do exercício de 2024, os gastos com o programa Pé-de-Meia e as receitas primárias contabilizadas, a maior em R$ 12 bilhões, o déficit primário efetivo será de R$ 119 bilhões. Algo por volta de 1% do PIB.
A inflação maior e a queda das exportações líquidas a preços correntes, que devem ser de 1,5% do PIB em 2024 ante 2023, expressam velha conhecida nossa: a baixa capacidade de resposta da oferta da economia brasileira a estímulos de demanda. Rapidamente colhemos inflação e queda nas exportações líquidas.
O cenário de inflação e juro maiores piorou a dinâmica da dívida pública. Em dezembro de 2026, ela deverá ser 15 p.p. do PIB maior do que em dezembro de 2022. Em dezembro de 2023, projetava-se aumento de 13 p.p.
A piora do endividamento e a falta de apetite do presidente Lula de liderar um ajuste fiscal explicam, no meu entender, a piora no câmbio.
Para 2025, espero que o crescimento seja de 2%. A desaceleração será bem maior do que a queda de 3,5% para 2%. Em 2024, o crescimento foi liderado pela componente cíclico da economia. Em 2025, será liderado pelo componente exógeno: agropecuária e indústria extrativa mineral, além de aluguéis e serviços da administração pública.
Em 2024, a componente exógena cresceu 1,3% e, em 2025, crescerá 2,7%. A desaceleração da componente cíclica será de 4,5%, em 2024, para 1,5%, em 2025. O desemprego deverá se elevar no segundo semestre de 2025.
O câmbio andará de lado. O grande choque já veio. A taxa Selic terminará 2025 em 15%. Rodaremos 2025 com incrível juro real de 8%! Em que pese a forte contração monetária, ainda colheremos inflação em alta em 2025. A inflação em 2025 deverá ser de 6%, em grande medida fruto do legado da piora do câmbio de 2024.
A dúvida é qual será a reação de Lula à forte desaceleração da economia em 2025. Saio de férias. Retorno no domingo, 25 de janeiro.