Após um início de campanha tumultuado, os democratas, agora com Kamala Harris, enfrentarão Donald Trump, que tenta retornar à Casa Branca. Apoiamos Harris, ainda que não concordemos com todas as suas ideias, porque a alternativa seria catastrófica — e também porque nos agrada a presença de uma mulher negra no comando do país mais influente do mundo.
Feito o introito, como vai a corrida? Talvez a melhor maneira de defini-la neste momento seja: um cara ou coroa, com chances basicamente iguais para ambos. Nas pesquisas de opinião, Harris está um pouco à frente de Trump, mas dentro da margem de erro. Nas casas de apostas, Trump está um pouco à frente de Harris.
Nos Estados Unidos, as eleições são decididas nos chamados swing states, aqueles sem viés partidário claro. É neles que os candidatos investem mais tempo, recursos e energia. Não faz sentido para Harris fazer campanha no Texas, onde não há possibilidade de sair vencedora; o mesmo vale para Trump em Nova York. Os estados decisivos são: Michigan, Pensilvânia, Nevada, Carolina do Norte, Wisconsin e Geórgia. Nesses, ambos têm chance: os eleitores às vezes votam nos republicanos, às vezes nos democratas. A última análise estatística do Silver Bulletin sugere que nesses estados a disputa está por um fio.
Kamala x Trump
De Washington, a correspondente da Folha informa o que importa sobre a eleição dos EUA
Ambos os candidatos vêm falando bobagens na área econômica. Harris com seu discurso de que preços altos decorrem da ganância dos empresários; Trump com sua política protecionista no comércio exterior e investidas tresloucadas contra a independência do Banco Central. Os dois negligenciam o maior problema da atual economia norte-americana: o imenso déficit fiscal e a dívida crescente. A dívida hoje é, proporcionalmente, mais alta que a de 1945, o fim da Segunda Guerra Mundial. E as projeções indicam que continuará a crescer, como um bola de neve — ou uma bomba-relógio.
Historicamente, partidos conservadores sempre se posicionaram a favor da prudência fiscal de um modo mais direto, no discurso e na prática, que os partidos progressistas. Mas há algum tempo essa regra perdeu a validade. Trump, além de não apresentar plano de contenção de gastos, quer reduzir impostos (e de modo regressivo!). Essa tendência de convergência ao populismo econômico por parte de partidos políticos de diferentes matizes não é exclusividade norte-americana.
Um governo Trump seria pior para a economia brasileira (e para a dos Estados Unidos) do que um governo Harris. Aumentaria a já elevada temperatura das tensões geopolíticas globais, afetando adversamente os investimentos produtivos, e contribuiria para maior fragmentação mundial com suas políticas anticomércio e anti-imigração. Sobre esse último ponto vale lembrar que o aumento da força de trabalho via imigração ilegal ajudou a aliviar gargalos de produção e, portanto, pressões inflacionárias nos últimos trimestres. Isso, porém, não parece ter reduzido a popularidade das políticas xenófobas do republicano.
Por fim, neste texto não entramos em outros temas que desabonam o candidato Donald Trump, como a tentativa de fraudar as eleições de 2020 e o incitamento à invasão do Congresso. Num país mais sério, ele sequer poderia se candidatar.