Opinião - Plástico: Bienal do Mercosul quer mostrar que o mundo todo acaba num estalo, do nada

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O sentido de urgência atravessa a nova Bienal do Mercosul, com abertura marcada para março do ano que vem. Adiada por causa da tragédia climática que arrasou uma série de cidades do Rio Grande do Sul, a mostra agora tenta voltar ao prumo como manifestação de resiliência.

No comando da exposição, Raphael Fonseca afirma que "Estalo", como decidiu chamar a mostra, tem como ponto de partida a sensação de tragédia, tanto aquelas já sentidas e superadas quanto as que se aprontam no horizonte, a ideia de que tudo pode mudar, para melhor ou pior, no curto intervalo de um estalar dos dedos da mão.

Essa que já foi uma das mostras mais influentes do calendário e perdeu relevância ao longo dos anos agora tem à frente um artífice com certo frescor. Fonseca, nome forte do Museu de Arte de Denver, nos Estados Unidos, é um carioca que vem trilhando uma carreira singular no mundo rígido das castas da arte.

De olho tanto no subúrbio fluminense quanto na movimentação das placas tectônicas do cenário estético mundial, ele parece estar ligado na tomada. Não por acaso, é o nome também por trás da mostra "Fullgás", um resumo poderoso da arte brasileira que despontou com a redemocratização do país na década de 1980, agora em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.

Sua seleção para a Bienal do Mercosul, num estado de pós-devastação, tem alguns nomes incontornáveis do cânone, entre eles Nam June Paik, o sul-coreano pioneiro da videoarte, Iberê Camargo, um dos nossos artistas mais trágicos na vida e na arte, e um recém-redescoberto Claudio Goulart, artista gay que construiu quase toda a sua trajetória na Europa e acabou esquecido em sua Porto Alegre natal, um performer visceral que plasmou as dores homossexuais em filmes, fotografias e colagens.

Outro nome aguardado da seleção é o americano Paul Mpagi Sepuya, conhecido por subverter a hipersexualização do corpo dos homens negros em retratos ao contrário, que revelam mais dos bastidores e da mise-en-scène do que a nudez. Sua presença em Porto Alegre será a primeira do artista no Brasil.

No total, serão 76 artistas, entre eles a argentina Claudia Alarcón e a paraguaia Julia Isídrez, que estão na atual Bienal de Veneza, espalhados por 18 espaços da capital gaúcha, um deles a Fundação Iberê Camargo, obra do português Álvaro Siza.

SUSTO O trabalho de Anna Maria Maiolino, uma das maiores artistas da atualidade, foi vandalizado na Bienal de Veneza, que a premiou com o Leão de Ouro pelo conjunto da obra. Sua instalação ficou fechada para restauro e reabriu com um aviso da artista, descrevendo o ato como um protesto contra a violência.

SUSTO 2 Os telefones não paravam de tocar na galeria Luisa Strina na semana passada com amigos perguntando se a mais famosa marchande do país teria morrido. Foi um erro de interpretação do convite para o lançamento do livro que celebra os 50 anos da casa. Strina, que está vivíssima e continua uma máquina, riu do episódio e reforçou o convite para a festa.

VISITA Levin Roul, o diretor da Anne Frank House, a casa-museu de Amsterdã onde morou a célebre vítima do nazismo, visitou a mostra na Unibes Cultural, em São Paulo, que reproduz o anexo secreto da residência onde a família de Frank se escondeu. Ele veio a convite de Priscilla Paroldi, diretora da Inspirar-Te, que idealizou a mostra, com a missão de recriar o espaço numa mostra a ser realizada em Nova York.

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