As primeiras semanas de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos intensificaram a tendência de protecionismo econômico em contraposição à globalização. E nós com isso, poderia perguntar um leitor desavisado. Se todos os países reagirem com mais restrições ao comércio internacional, a vida vai ficar mais cara também no Brasil. E talvez os ovos sumam dos pratos nos Estados Unidos.
Hoje, produtos como automóveis têm sua fabricação dividida em partes e peças de vários países. Isso também ocorre na tecnologia da informação, em vestuário e calçados. Portanto, se todos os países brigarem por superávit na balança comercial, o consumidor vai sofrer pelo mundo afora.
É o caso da resistência de países como a França a um acordo entre União Europeia e Mercosul. Não é raro que países europeus subsidiem seus agricultores e pecuaristas para evitar o êxodo rural. Além disso, dificultam as importações de alimentos de exportadores como o Brasil, encarecendo a comida.
Espero que as ações belicosas de Trump estimulem os europeus a fecharem logo um acordo com o Mercosul. E que a China continue comprando soja, milho, açúcar e carne bovina do Brasil, dentre outros produtos.
O fechamento econômico de um país em suas fronteiras reforça um nacionalismo exagerado e isso também abre as portas para visões menos universalistas do mundo. Ou seja, para conflitos mais ou menos graves.
Isso não significa que um país não possa ou que não deva ter políticas especiais para fortalecer áreas produtivas de acordo com os interesses de sua população. Nem que tenhamos de zerar as tarifas de itens produzidos por países ricos, que detenham alta produtividade e tecnologia, dificultando o crescimento da indústria brasileira.
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Trata-se de equilibrar o jogo do comércio sem prejudicar o consumidor, que, evidentemente, quer os melhores produtos por preços mais acessíveis.
Há, também, o aspecto tecnológico, pois, como já observei, diversos produtos demandam itens produzidos em vários países. Taiwan, por exemplo, é responsável pela fabricação da maioria dos chips utilizados mundialmente.
Em situações críticas, fica claro como as nações são interdependentes. Em janeiro último, os Estados Unidos importaram mais 62% de ovos brasileiros, pois sofrem com a queda de abastecimento e com preços elevadíssimos devido à gripe aviária.
Se também fossem protecionistas para proteger os avicultores daquele país, as famílias norte-americanas teriam de excluir ovos de sua dieta.
Por aqui, a propósito, enchentes, secas e o aumento das exportações também dificultam a compra de ovos pelos brasileiros. A Abras (Associação Brasileira de Supermercados) informou que, em algumas regiões do país, os preços dos ovos subiram até 40% desde a segunda quinzena de janeiro último! E temos visto caixas de ovos com menos unidades, vendidas bem caras!
Portanto, governos podem acreditar e gostar do protecionismo, mas, para os consumidores, essa política sempre é sinônimo de altos preços e de redução do poder aquisitivo.