Opinião - Marcos de Vasconcellos: Embraer voa alto, com gasolina do BNDES

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"Mais feliz que acionista da Embraer em 2024" deveria se tornar uma expressão no dicionário dos investidores daqui para frente. As ações da gigante nacional (EMBR3) já voaram (com o inevitável trocadilho) mais de 100% neste ano. E o governo decidiu colocar mais gasolina no avião, no qual também pega carona.

Quando digo o governo, me refiro ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que, pelo seu braço de participações, o BNDESpar, tem 5,37% das ações da Embraer. Só neste ano, com a alta de 118%, essa fatia da empresa já se valorizou mais de R$ 900 milhões.

Enquanto lucra de um lado, com sua carteira de investimentos, o BNDES tira de outro bolso, emprestando a juros baixos, para alavancar ainda mais o voo da Embraer.

Na última semana, R$ 500 milhões em empréstimos foram contratados pela Eve Air Mobility, controlada da Embraer, para desenvolvimento de sua fábrica de "carros voadores", no interior de São Paulo.

No meio do ano, o banco estatal concluiu o contrato de financiamento da Embraer para exportação de 32 jatos comerciais para a American Airlines. Operação da ordem de R$ 4,5 bilhões.

Isso sem contar outros R$ 500 milhões de empréstimo com carência de 48 meses para a empresa aplicar em seus projetos de inovação, liberados também neste ano. Esmiuçando as tabelas do BNDES, dá para ver que ele não fornecia esse tipo de verba para a Embraer desde 2013.

Convenhamos que é mais fácil decidir a favor de quem está no topo do que correr riscos apoiando uma empresa que pode dar calote. E as projeções da Embraer para o ano são bastante positivas. Se, no ano passado, a receita líquida consolidada foi de R$ 26,1 bilhões, para este ano, a previsão é de ficar entre R$ 34 e R$ 36 bilhões (na cotação atual do dólar).

Folha Mercado

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O exagero no otimismo é sempre problemático no mercado. Gera ondas de compras e futuros descontentes. Contra ele, números e comparações são bons remédios. E o caso da Embraer impressiona também por estar com indicadores considerados bastante saudáveis, mesmo depois de tanta valorização de suas ações.

O indicador EV/Ebitda, por exemplo, relaciona o valor da empresa (EV) com seu Ebitda (geração de caixa). Ele indica quantos anos seriam para que o lucro operacional quite o valor total da empresa. Para a Embraer, pela cotação atual das ações, seriam necessários 10 anos. Para seus pares Boeing, seriam 64 anos e para a Airbus, 11, segundo estimativa do BTG Pactual.

O banco, aliás, recomenda a compra das ações EMBR3, apontando que elas podem chegar ainda a R$ 55. Atualmente, estão na casa dos R$ 48.

O bom momento está deixando a companhia sonhar. Seu CEO, Francisco Gomes Neto, disse que estuda produzir um novo jato para concorrer com o famoso 737 da Boeing.

Se o dinheiro continuar chegando com facilidade atual e os indicadores seguirem saudáveis, o plano pode dar ainda mais propulsão ao já impressionante voo. Aos passageiros mais atentos, os indicadores de turbulência, nesse caso, são a dependência de poucos clientes-chave e da boa vontade do dinheiro público.

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