O Globo de Ouro aconteceu no domingo, mas seguimos justificadamente celebrando a vitória da nossa Fernandinha. Eu que não ligo para futebol, mas gosto de uma boa festa e não perco uma oportunidade de me gabar do Brasil, comemorei muito mais do que final de Copa do Mundo ao ouvir Viola Davis pronunciar com um charmoso sotaque gringo o nome da nossa craque.
Foi lindo, emocionante e simbólico ver Fernanda no palco com aquele troféu nas mãos falando sobre a sensação de receber o prêmio 25 anos depois de sua mãe ter sido indicada. E sobre como a arte perdura. E sobre como esse filme e a história de Eunice Paiva nos ensinam a enfrentar tempos difíceis. Sigo aplaudindo de pé suas palavras e na torcida pelo Oscar.
Mas embora a vitória da nossa eterna Vani tenha sido aquela surpresa que explode fogos de artifício no coração, foi o discurso de uma outra vencedora que fez encher meus olhos d’água. Ao receber o prêmio por sua atuação em "A Substância", Demi Moore, claramente surpresa, subiu ao palco e proferiu: "Eu estou fazendo isso há mais de 45 anos e essa é a primeira vez que eu ganho um prêmio como atriz".
Ver aquela mulher, do alto dos seus 62 anos, receber o primeiro prêmio de sua carreira me comoveu profundamente.
Somos uma sociedade obcecada com o cruzamento entre juventude e sucesso. Contamos as histórias dos feitos extraordinários de gente que viveu muito pouco. Fulano que conquistou seu primeiro milhão aos 15 anos, fulana que foi campeã do mundo aos 18, ciclano que criou um império aos 20.
Lembro com tristeza de fazer trinta anos e olhar a lista dos 30 Under 30 pensando "meu tempo passou". Como se existisse um cronograma que nossa carreira precisa seguir: alcançar o sucesso aos 30, ser respeitado aos 40, desacelerar aos 50. É sobre isso, inclusive, a história que Demi retrata em "A Substância", filme em que interpreta uma atriz de 50 anos, em fim de carreira, que vê no rejuvenescimento a possibilidade de se manter relevante.
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Ao receber o prêmio neste domingo, Demi nos lembra que não há calendário para o sucesso, nem prazo para o reconhecimento. Demi e Fernanda, ambas com mais de 50, nos mostram que o tempo (e a experiência e maturidade que geralmente o acompanham) pode ser justamente o ingrediente que leva ao que consideramos como sucesso.
Do discurso de Demi, fico com o lembrete muito útil de que —para a maioria de nós— o caminho até o reconhecimento profissional é longo e cheio de percalços. Mas vale a pena seguir, errar, acertar, se reinventar e aproveitar a jornada. Porque, independentemente da idade, o melhor ainda pode estar por vir.
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