"Como que ninguém nunca tinha me falado da perimenopausa?", exclamou uma amiga em estado de pura perplexidade e revolta, enquanto tomávamos uma merecida cerveja ao final de um dia como qualquer outro, que havia começado cedo demais, tinha sido cheio demais e estava terminando tarde demais.
A pergunta finalizava o monólogo iniciado meia hora antes sob olhares atentos e expressões boquiabertas das demais mulheres ao redor da mesa, todas com idades entre 40 e 50 anos.
A referida amiga, que aqui trataremos como Fernanda, do alto de suas 44 primaveras, se viu, nos últimos meses, diante de um primeiro teaser do que alguns consideram ser o inverno da vida. Diante de uma pletora de sintomas que haviam acometido-lhe nos últimos meses e para os quais ela havia sido pega totalmente, Fernanda foi obrigada a fazer o que fazemos todos nós em 2025 ao nos depararmos com o desconhecido. Fernanda deu um Google.
A resposta estava lá, em páginas e mais páginas de links.
"A perimenopausa, também conhecida como pré-menopausa, é a fase de transição do corpo feminino que antecede a menopausa, caracterizada por flutuações hormonais que afetam o ciclo menstrual e podem causar diversos sintomas como: suores noturnos, menstruação irregular, irritabilidade."
Fernanda havia sentido todos e, finalmente, podia dar nome ao que estava vivendo. Mas entre nomear e compreender há um longo caminho. Tinha crescido ouvindo sobre os ciclos da mulher, a menstruação, a idade reprodutiva e a menopausa.
Assim como aconteceu quando sentiu o sangue jorrar entre suas pernas pela primeira vez, ninguém havia contado a ela como a coisa aconteceria na prática. Como seus peitos ficariam doloridos, como o sangue, às vezes, coagularia e sairia em pedaços grandes, escuros, parecendo pedaços de órgãos. E como ela deveria lidar com a vergonha que sentiria de ter sua intimidade estampada nas manchas vermelhas que eventualmente decorariam suas calças.
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Com a perimenopausa ela foi pega ainda mais de surpresa. Primeiro, por achar que, aos 44 anos, já havia aprendido tudo o que podia aprender sobre seu corpo. Segundo, porque achava que menopausa era só meno-pausa, a tal de "peri" havia a pegado totalmente desprevenida.
Diante da ignorância, Fernanda foi buscar conhecimento. E entre fogachos e palpitações, descobrir o que se passava em seu corpo era como aprender a dirigir, sentada na cadeira do motorista, com o carro em alta velocidade.
Deu a sorte de ter iniciado sua jornada rumo ao desconhecido do climatério num tempo em que o acesso ao relato de outras mulheres está a um clique de distância. Mais sorte ainda de ter dado de cara com o excelente podcast Zen Vergonha, da apresentadora e sua xará Fernanda Lima, que também havia sido pega de surpresa pela perimenopausa.
Fernanda nos contou sobre sua experiência com riqueza de detalhes, sem nos poupar de seus sofrimentos, sem esconder suas inseguranças. Diante de tanta franqueza, senti uma enorme gratidão. Ela havia jogado luz na escuridão da minha ignorância e me preparado para encarar a minha jornada rumo à menopausa com mais tranquilidade.
Mas a generosidade espontânea de Fernanda me fez questionar de quem deveria ter sido esse papel na vida da minha amiga. Para que ela também não fosse pega desprevenida. Sua mãe? Sua escola? A televisão? A sociedade? Todos falharam ou sequer tentaram, e Fernanda teve que aprender sozinha, sofrer sozinha, se assustar sozinha, se virar sozinha. Sorte a nossa que cada mulher que sai da ignorância, leva com ela mais umas tantas. Eu tive a sorte de estar ao lado de Fernanda, naquele dia que começou cedo e terminou tarde.
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