Como Ego Kill Talent, banda que abrirá para o System of a Down, dividiu fãs do rock

há 1 dia 1

Se você conhece a Ego Kill Talent, há uma chance razoável de que a tenha descoberto durante o show de alguma grande banda internacional. Prestes a esquentar o palco para o System of a Down nos shows da turnê "Wake Up!", que chega ao Brasil em maio, eles já anteciparam apresentações do Linkin Park, Metallica, Queens of Stone Age, Foo Fighters e Evanescence.

Mas em vez de encarar isso como um currículo robusto, parte do público e até artistas de outras bandas menores criticaram raivosamente a produtora 30e por uma suposta repetição do grupo como atração de abertura. Entre comentários amargos, um bem-humorado disse que a Ego Kill Talent também era convidada de Lady Gaga em Copacabana.

"Se ela chamasse, a gente abriria", diz rindo Theo Van der Loo, um dos fundadores do grupo. Num tom mais sério, o baixista Cris Botarelli afirma que a insatisfação das pessoas é, na verdade, com o estado do rock nacional.

"Para um 'hate', nem foi tão pessoal. É uma dor muito mais por uma cena que não tem tanto espaço para se desenvolver como deveria", afirma. "No Brasil, além do underground, a gente tem os grandes festivais e um mercado médio sustentado pelo Sesc. Tem muitas bandas que crescem em qualidade e experiência e não têm para onde ir."

A relação com atrações internacionais se desenrola há anos. Fãs do Linkin Park, por exemplo, gostaram quando Emilly Barreto assumiu como vocalista da EKT, lembrando a atual fase do grupo americano, hoje liderado por Emily Armstrong no lugar de Chester Bennington. Essa repercussão ajudou a levá-los ao palco na turnê da banda pelo Brasil no ano passado.

Da mesma forma, em 2018, foi o fã-clube do Foo Fighters quem indicou a banda paulistana. Já o convite para a turnê brasileira do Metallica foi negociado pela C3 Presents, empresa responsável pelo Lollapalooza e que agenciava a EKT na época.

"As pessoas precisam entender que quem escolhe a banda de abertura é sempre o artista internacional", diz Van der Loo. "Essa coisa de favor é mais difícil do que a galera pensa. Muita gente vê só um pedaço da história. A gente rala há muito tempo."

Quando a EKT surgiu, em 2014, ele estava há alguns anos longe dos palcos, trabalhava com produção musical desde que deixara a Sayowa, em que tocou ao lado de Raphael Miranda.

O baterista Jean Dolabella havia deixado o Sepultura e ligou para Van der Loo para dar a notícia. Decidiram se juntar num novo grupo, que cresceu com Miranda, Estevam Romera, ex-Desalmado, e depois com o vocalista Jonathan Dörr.

E já nos primeiros ensaios, o baterista se aventurou na guitarra, o baixista na bateria, consagrando uma tradição de se revezarem nos instrumentos —mas com canções sempre em inglês.

"As bandas de rock que a gente ouvia na adolescência cantavam em inglês, e sempre tivemos esse sonho de ir lá para fora", diz Van der Loo, citando o reconhecimento internacional do Sepultura.

Em 2016, a Ego Kill Talent lançou seu EP de estreia, "Sublimated", fez sucesso na Rádio Rock e rendeu um convite da emissora para uma apresentação em seu espaço no Lollapalooza, aumentando sua projeção.

Já a amizade com o System of a Down é mais antiga do que o próprio conjunto. Van der Loo e Miranda conheceram os músicos armênios em 2011, quando trabalhavam como promotores de shows, por meio de um conhecido em comum com o empresário do grupo. Logo viraram amigos. Os estrangeiros acompanharam a criação da Ego Kill Talent e, em 2017, a convidaram para o festival Download de Paris.

Também brasileira e convidada, estava lá a Far From Alaska, com quem a EKT havia lançado a faixa "Collision Course" pouco antes. Anos depois, duas das fundadoras daquela entraram para esta. Barreto substituiu Dörr quando ele deixou a formação em 2022, e Botarelli assumiu o baixo do grupo neste ano, após a saída de Dolabella.

Além da mudança na formação, a sonoridade da banda está mais pop em seu novo single, "Reflecting Love", sobre quando Barreto contou que era lésbica para a família, e as cores escuras que tomavam os visuais da banda foram substituídas por outras mais vivas, como o rosa e o azul.

Ainda que acostumada com o machismo na cena do rock, a vocalista se surpreendeu com a reação de parte do público. "A galera está odiando que entrei na banda só porque eu sou mulher? Espera ouvir a música para falar se não gostou", diz ela, que percebeu a saída de fãs mais antigos da Ego Kill Talent, mas também a chegada de novos, importados da Far From Alaska.

"Se você está nesse caminho de questionar as suas próprias crenças, o que te distancia de estar na vida de forma mais amorosa, você tem tudo a ver com gente, independente de qual lado que você esteja", diz Van der Loo. "Agora, se você ainda tá numa de defender o teu ódio, você não vai caber aqui."

Leia o artigo completo