Opinião - Gustavo Alonso: Eleições mais democráticas

há 1 mês 6

As acachapantes vitórias das direitas autoritárias nos EUA e no Brasil nos últimos anos demonstram que os democratas se equivocam quando se colocam de forma meramente reativa às investidas antidemocráticas, sem propor nada que de fato aprofunde a participação política. Apenas resistir tem sido mortal.

Sem proposta concreta que alargue a democracia representativa por parte dos democratas, as direitas autoritárias deitam e rolam. Catalisam desejos legítimos e os contaminam com interesses espúrios. É o que acontece, por exemplo, na crítica dos extremistas direitistas ao voto da urna eletrônica. No discurso, a proposta visa a suposta inclusão das massas. No fim, deturpa os desejos de efetiva participação política.

A democracia representativa é o que de melhor o Ocidente criou. Mas ela não precisa parar no tempo. Há medidas que podem ser propostas pelos progressistas democratas para ampliá-la, sem negá-la. Mas como ampliar a democracia? Vamos a algumas ideias.

Por que alguém não pode se candidatar sem partido político, apenas com seu número de CPF? Os partidos tal como o conhecemos surgiram no século 19, quando eram necessários para mediar um novo tipo de governo, a democracia representativa. Mas hoje a internet subverteu tudo e os filtros dos partidos mais bloqueiam que ampliam o espírito democratizador. Não se trata de proibir partidos, mas de reconhecer seus limites e compreender a que contexto responderam quando foram criados. Mais gente podendo ser eleita, sem necessidade de aval dos caciques partidários, é mais democrático.

Faz sentido ainda vivermos numa democracia bicameral? Senado e Câmara dos Deputados surgiram no século 18 nos EUA e foram imitados em boa parte dos países republicanos. O Senado dá a mesma representação de dois senadores por Estado, seja o Amapá, Alagoas ou São Paulo, o que explica a força dos Randolfes, Alcolumbres e Calheiros em nossa política. Não seria mais justo, nos dias de hoje, a mera representação demográfica? Ainda precisamos do Senado?

Alguns democratas insistem em criticar a obrigatoriedade do voto. Ok, o voto deveria ser opcional. Mas, verdade seja dita, é fácil justificar o voto ausente e, em último caso, paga-se uma multa irrisória.

Brasília Hoje

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Nosso voto obrigatório não é nada forçado. Vota quem quer. É notório o grande número de votos nulos, brancos e abstenções nas eleições nacionais. Em 2022, 20,3% dos eleitores sequer compareceram às urnas. É preciso entender esses não-votos como protestos silenciosos e enquadrá-los na representatividade. Por que não deixamos 20% dos assentos vagos em nossas casas representativas? Assim elas seriam mais fiéis ao que pensa o povo.

E, apesar das dificuldades técnicas, quando levaremos a sério a possibilidade de votar pelo celular?

Ampliar a democracia envolve coragem. Para serem efetivadas, propostas como essas precisam passar pela atual democracia. Dificilmente passarão, pois são críticas ao status quo de direitas e esquerdas. Mas quem sabe, pressionados pelas demandas de baixo, nossos políticos não se mexam?

É utopia o que estou propondo aqui? É. Mas aos democratas progressistas vem faltando exatamente isso.

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