O atentado ao STF (Supremo Tribunal Federal) em 13 de novembro de 2024, no qual um homem se explodiu em frente ao prédio da corte após detonar bombas na praça dos Três Poderes, evidenciou a fragilidade da segurança institucional e destacou o crescimento da radicalização da direita brasileira.
Francisco Wanderley Luiz, responsável pelo ataque, tinha histórico de apoio a Jair Bolsonaro e havia se candidatado a vereador pelo PL em 2020.
A situação remete aos ataques de 8 de janeiro de 2023, quando grupos radicais invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes. Desta vez, a abordagem foi diferente: um ataque solitário e desesperado, mas que se insere em um padrão maior de violência política e desinformação que enfraquece a democracia brasileira.
A análise da repercussão do ataque nas redes sociais, feita por meio da plataforma da Palver, revela um movimento coordenado em grupos de direita no WhatsApp e Telegram para desassociar o agressor do bolsonarismo.
Mensagens se espalharam rapidamente, ironizando o ocorrido, questionando a veracidade do ataque e divulgando notícias falsas de que Francisco Luiz teria sido morto por agentes do STF. O volume de mensagens foi significativo: as menções ao STF quadruplicaram nas 16 horas seguintes ao ataque, e grande parte dessas interações visava semear confusão e desconfiança.
Esse não é um fato isolado. A desinformação sobre o STF tem sido uma constante ao longo do ano, com narrativas que distorcem a percepção pública sobre as decisões da corte.
Quando o STF decidiu descriminalizar o porte de maconha para uso pessoal, uma enxurrada de vídeos e mensagens falsas se espalhou nas redes sociais, alegando que a decisão beneficiava traficantes e liberava o uso de drogas sem qualquer regulação. Essas mensagens inflamaram um ressentimento que se traduz em apoio a atos extremos como o de novembro.
A vitória de Donald Trump nas eleições americanas de 2024 também foi usada como pretexto para alimentar expectativas de uma intervenção contra o STF, reavivando narrativas de 2023.
Mensagens antigas e descontextualizadas foram amplamente distribuídas, sugerindo que o novo presidente dos Estados Unidos interviria contra as instituições brasileiras, num delírio compartilhado e fomentado por desinformação.
O ataque gerou também um efeito rebote para o campo da direita. A PEC da Anistia virou foco de intensa discussão nos grupos de WhatsApp.
A análise das mensagens revela uma percepção majoritariamente negativa em relação à PEC, com muitos usuários expressando indignação e rejeição à ideia de anistiar os responsáveis pelos ataques.
Entre as mensagens analisadas, a ampla maioria apresentou um posicionamento contrário à anistia, com frases como "sem anistia" e "nunca perdoar" sendo recorrentes. Essa reação negativa demonstra a resistência significativa entre os usuários à ideia de impunidade.
O atentado de novembro é um sinal claro da ameaça à democracia representada pela radicalização e pela desinformação.
Para enfrentar essa crise, é fundamental uma atuação coordenada entre plataformas digitais, sociedade civil e autoridades.
O combate à desinformação não pode ser superficial, pois é justamente essa superficialidade que alimenta o ressentimento e cria o ambiente propício para ataques como o do 13 de novembro.
Defender a verdade e a democracia significa promover um debate público baseado em fatos e desmantelar a máquina de desinformação que ameaça nosso futuro.
O Brasil se encontra em um momento crítico, em que o enfrentamento da violência política e da desinformação se faz urgente para garantir a integridade das instituições e a confiança da sociedade. Somente através de uma ação conjunta e decidida poderemos construir um ambiente político mais seguro e comprometido com os princípios democráticos.