Nas últimas semanas, um tema que vinha ganhando destaque no pano de fundo das redes sociais é a questão da Venezuela. Na última semana, contudo, o tópico ganhou protagonismo, principalmente após o segundo turno das eleições municipais.
Segundo os dados Palver, essa discussão está sendo levantada durante todo o mês de outubro com mensagens tentando criar um sentimento de medo na população brasileira. O engajamento se intensificou após as ações do governo de Maduro na semana passada.
A primeira onda aconteceu após o governo de Nicolás Maduro convocar o embaixador venezuelano no Brasil, Manuel Vadell, para consultas. Diplomaticamente, o ato indica uma elevada insatisfação do governo da Venezuela com o Brasil. Nos grupos públicos de WhatsApp e Telegram diversas mensagens começaram a especular o que poderia estar por trás de tal atitude.
A situação entre os dois países ficou mais tensa após o governo brasileiro vetar a entrada da Venezuela no grupo dos Brics. Contudo, a relação está estremecida desde as eleições presidenciais venezuelanas, na qual o governo brasileiro não reconheceu a vitória de Nicolás Maduro e sugeriu que fossem realizadas novas eleições, após o órgão eleitoral não apresentar as atas de votação.
Desde então, o que era uma oportunidade para Lula de se desvencilhar do governo de Nicolás Maduro, tem produzido ambiguidades no que diz respeito à opinião das pessoas sobre o tema, principalmente nos grupos de mensageria.
Nos grupos de direita, há um vídeo do deputado Gustavo Gayer (PL) dizendo que Nicolás Maduro guarda segredos de Lula. O deputado afirma que campanhas petistas foram pagas com dinheiro oriundo do narcotráfico venezuelano. Com a retórica utilizada, há uma tentativa de se criar expectativa de que a qualquer momento pode surgir uma bomba com relação ao tema, pois "Maduro teria motivos para contar tudo o que sabe".
Essa é uma estratégia de comunicação que vem sendo bastante utilizada nas redes sociais, pois é um elemento importante de engajamento. Como uma parcela das pessoas fica na expectativa de que algo grandioso pode acontecer a qualquer momento, ficam atentas aos conteúdos postados, garantindo atenção e relevância ao influenciador.
Outra onda de engajamento aconteceu após o perfil da polícia venezuelana no Instagram postar uma imagem fazendo alusão a Lula e com os dizeres "quem mexe com a Venezuela se dá mal". Após a postagem, começou a circular nas redes sociais um vídeo criando expectativa de que uma guerra entre os dois países esteja prestes a estourar.
Declarações e reportagens foram tiradas de contexto na elaboração do vídeo, indicando que as Forças Armadas brasileiras intensificaram operações na fronteira e estão preparadas para uma invasão iminente. As declarações e notícias que inspiraram a produção, contudo, são referentes à escalada de tensões entre Venezuela e Guiana.
Por fim, a última linha discursiva que ganhou força nas redes na última sexta-feira (1), foi a de que o conflito entre Lula e Maduro não passa de um teatro. Toda a troca de farpas seria, na verdade, uma encenação para que Lula pudesse passar a PEC da Segurança Pública que, entre diversas modificações, prevê a criação de uma polícia ostensiva nacional.
Neste ponto, as mensagens no WhatsApp apontam que seria um modelo similar ao da Venezuela, e por essa razão Lula precisou afastar sua imagem da de Maduro para ter mais facilidade na aprovação da PEC.
A princípio, essas investidas de Maduro contra Lula deveriam ser bastante positivas ao presidente do Brasil, uma vez que a proximidade com a Venezuela é um dos argumentos mais utilizados para vinculá-lo ao radicalismo. Esse afastamento, portanto, poderia dar mais consistência ao governo no que diz respeito à defesa da democracia.
Na prática, contudo, o que se vê é que a oposição tem sido efetiva ao explorar a ligação entre Lula e Nicolás Maduro.