Opinião - Elio Gaspari: O dia 26 de março em 2025, quando Bolsonaro virou réu no STF, e em 1964

há 2 dias 3

O Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou, na quarta-feira (26), a denúncia contra os acusados de tramar um golpe em 2022 e em 2023. Com isso, o julgamento irá em frente. Não custa recuar no tempo, até o dia 26 de março de 1964, quando João Goulart era presidente da República.

É necessário lembrar que estava em curso um processo de indisciplina militar, com marinheiros revoltados, abrigados no sindicato dos metalúrgicos, no Rio de Janeiro. Uma tropa de 30 fuzileiros mandada ao sindicato aderiu à revolta.

Nesse dia, Lincoln Gordon, o embaixador americano no Brasil, dizia, no telegrama ultrassecreto 3824 ao Departamento de Estado:

"Minha conclusão ponderada é que João Goulart está agora claramente empenhado em uma campanha para ganhar poderes ditatoriais, aceitando para isso a colaboração ativa do partido comunista brasileiro e de outros revolucionários radicais da esquerda. Se tiver êxito, é mais do que provável que o Brasil cairá sob total controle comunista, mesmo que ele espere voltar-se contra seus ajudantes comunistas, adotando o modelo peronista —que me parece ser a sua preferência pessoal. (...)

O acontecimento mais significativo é a cristalização de um grupo de resistência militar sob a liderança do general Humberto Castello Branco, chefe do Estado-Maior do Exército. (...) Associado a ele há um grupo de oficiais superiores bem colocados, e agora Castello Branco está assumindo o controle e a direção sistemática dos grupos da resistência civil e militar, disseminados mas até agora pouco estruturados, em todas as regiões do País.

Dada a absoluta incerteza a respeito do momento em que pode ocorrer um incidente detonador (poderia ser amanhã ou qualquer outro dia), recomendamos:

a) que se tomem o quanto antes medidas para preparar um fornecimento clandestino de armas que não sejam de origem norte-americana, para os que apoiam Castello Branco em São Paulo, logo que se saiba quais são essas necessidades, e os arranjos ocorram. Hoje nos parece que o melhor meio de fornecimento é um submarino sem marcas de identificação, com desembarque noturno em locais isolados do litoral, no Estado de São Paulo, ao sul de Santos, provavelmente perto de Iguape ou Cananéia. (...)

Deveríamos preparar-nos também sem demora, para a eventualidade de que se faça necessária numa segunda fase e também para a possibilidade de ação soviética de apoio ao lado de inclinação comunista. Para minimizar a possibilidade de uma guerra civil prolongada e garantir o apoio de um grande número de adeptos, seria crucial a nossa capacidade de demonstrar apoio e uma certa exibição de força com grande rapidez. Para esse fim, e de acordo com nossas conversas em Washington no dia 21 de março, uma possibilidade parece ser o rápido envio de uma força-tarefa naval para manobras no Atlântico Sul, trazendo-a a uma distância de dois dias de Santos.

(...) A presença de um porta-aviões seria importante pelo efeito psicológico. Um contingente de fuzileiros poderia realizar as tarefas de segurança logística expostas no plano do CINC-Sul.[Referência ao comando Militar americano no Panamá]. Gostaríamos de receber orientação o mais brevemente possível sobre esse método e outros métodos alternativos de alcançar o objetivo acima descrito."

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