O anúncio oficial da reforma ministerial está previsto para abril próximo, mas na prática ela já começou. O mestre da obra, também arquiteto e decorador —o presidente Luiz Inácio da Silva (PT)—, deflagrou o processo ao comunicar à equipe a necessidade de mudanças.
Sem usar a palavra demissão, Lula demitiu Paulo Pimenta (PT) do comando da comunicação ao fazer severas críticas ao desempenho do setor.
Sem a presença na foto oficial, o marqueteiro Sidônio Palmeira foi convidado à mesa da confraternização de fim de ano no Palácio da Alvorada por onde circulou visto como substituto de Pimenta, ainda na incerteza de que tenha sido convidado e se aceitaria a missão.
Sem desmentir os rumores sobre sua saída da pasta da Defesa, José Múcio Monteiro sinalizou missão cumprida e cansaço dos embates internos com a esquerda. Os pés atrás são recíprocos. Seguirão sendo, embora a substituição, eventualmente pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), possa dar um respiro temporário aos humores.
Sem especificar nomes ou cargos, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), recorreu ao velho truque de mandar recados por intermédio de conversas atribuídas a "aliados" para marcar sua posição ainda de poder nos últimos dias de mandato.
O deputado apontou desequilíbrio nas forças políticas representadas no primeiro escalão e aconselhou trocas de comandos nos ministérios. Há quem tenha interpretado essas falas a "aliados" como uma oferta pessoal para sair do Legislativo rumo ao Executivo.
De fato, tanto Lira quanto o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), têm sido citados como prováveis futuros ministros, dado que deixam as presidências do Parlamento com café ainda quente. São perfis diferentes, no entanto.
Pacheco, conciliador e integrante do partido comandado por Gilberto Kassab, um ás na arte de navegar em duas canoas, teria como objetivo o governo de Minas Gerais para o qual a visibilidade e poder de um ministério serviriam bem.
Já Lira é do enfrentamento. Faz o estilo trator, é do partido presidido por Ciro Nogueira, defensor de Jair Bolsonaro e para quem não há hipótese de haver outro plano para a direita em 2026 que não uma candidatura própria a presidente da República com reforço nas bancadas do Congresso.
Não quer dizer que uma ampliação de espaços na Esplanada seria rechaçada, ao contrário, mas para servir aos interesses do PP e companhia, jamais para firmar aliança eleitoral com o PT. Além disso, Arthur Lira —postulante ao Senado— tem dito que prefere operar nas internas do Congresso que, segundo ele, precisa se impor de maneira ainda mais contundente.
Como, então, iria conciliar essa visão de mundo com os interesses do governo? Difícil. A menos que mudasse totalmente seus planos. Ainda assim estaria na equipe de Lula sempre sob a suspeita (e tiroteio do PT) de que jogaria contra. Resta uma questão crucial: o grau de confiança entre Lula e Lira.
Ao que circula por Brasília sobre a reforma ministerial, ela teria três critérios principais: melhoria na comunicação do governo; utilidade na atração de votos no Congresso à agenda do governo e para barrar pautas da agenda da direita radical; e compromisso de apoio ao PT —com Lula ou sem ele— em 2026.
É no terceiro item que a coisa pega. Em que termos seria firmado esse acordo? Até que ponto iria a confiabilidade de tal acerto? Um contrato assinado agora teria cláusulas de rescisão submetidas a circunstâncias futuras? Como se vê, sobrariam incertezas e faltaria firmeza na execução.