A guerra pelo voto da direita na eleição paulistana tem tudo para se tornar mais agressiva com a nova pesquisa do Datafolha. Os números indicam que Pablo Marçal não apenas ocupou espaços que poderiam dificultar o crescimento de Ricardo Nunes. O ex-coach conseguiu também roubar eleitores do atual prefeito.
O bolsonarismo é a força nada oculta desse conflito que deve determinar quem ficará com uma das vagas no segundo turno. Em duas semanas, o apoio a Nunes despencou entre eleitores que declaram ter votado em Jair Bolsonaro em 2022, de 38% para 30%. Marçal ganhou 15 pontos nesse grupo e chegou a 44%.
O eleitorado do ex-coach assumiu traços mais parecidos com o núcleo do bolsonarismo. Marçal abriu dianteira sobre Nunes entre os homens (28% a 18%), ganhou fôlego na classe média (24% a 20%) e melhorou entre os evangélicos (30% a 22%). Na última faixa, ele subiu 12 pontos.
Nunes será obrigado a acionar um modo de sobrevivência que tende a empurrá-lo para a direita. O prefeito tem a seu favor uma máquina política profissional, um latifúndio de propaganda na TV e uma rejeição bem menor do que o índice do ex-coach.
A recaptura do eleitor bolsonarista por Nunes se baseia na aposta em possíveis inconsistências de Marçal. O risco maior para o prefeito, no entanto, é a cristalização da candidatura do ex-coach, que poderia passar a ser identificado como o adversário natural da esquerda.
Guilherme Boulos está longe de pairar com tranquilidade sobre essa briga. O deputado do PSOL esperava ter um caminho mais livre para se consolidar como opção à esquerda. Só agora, no entanto, sua candidatura mostrou sinais de crescimento entre os paulistanos mais pobres e os eleitores de Lula —mesmo assim, dentro da margem de erro.
A competição está longe do fim, mas a configuração do eleitorado ainda oferece a Boulos um caminho razoável para chegar ao segundo turno. A outra vaga será resolvida numa disputa feroz, e Marçal largou com vantagem sobre Nunes.