No final de agosto deste ano, o IBGE divulgou as novas projeções populacionais brasileiras, atualizando estimativas que haviam sido feitas pela última vez em 2018. Os novos números já levaram em conta o Censo Demográfico 2022 bem como algumas outras informações (registros administrativos de nascimentos, óbitos e imigração).
Isso marca o início de um processo de revisão das principais estatísticas socio-econômicas brasileiras, a qual levará em conta esses novos números populacionais bem como informações de edições mais recentes de outras pesquisas estruturais, como é o caso da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF).
As POFs buscam mensurar como as famílias usam sua renda, entre poupança e consumo de diversos bens e serviços. É uma pesquisa crucial, entre outras coisas, para estimar a estrutura de ponderação dos produtos que compõem os diversos índices de inflação, como o IPCA e o INPC (do IBGE) e mesmo o IPC (da FGV).
Idealmente essa pesquisa deveria ser feita a cada dois ou três anos, mas a última POF foi realizada em 2017/18. Agora, com a POF 2024/25 (cuja coleta se iniciará em novembro), teremos uma ideia mais atualizada dos hábitos de consumo dos brasileiros, inclusive de alguns produtos que não faziam parte da pesquisa anterior, como apostas eletrônicas e streaming, entre outros. A nova pesquisa também medirá, pela primeira vez, o uso do tempo pelas pessoas (trabalho, lazer, internet etc.).
Essa nova POF deverá ser incorporada ao cômputo da inflação no começo de 2027. A última atualização da estrutura de pesos dos produtos do IPCA e INPC aconteceu em janeiro de 2020, levando em conta a POF 2017/18. Em geral, quando há esse tipo de atualização, a taxa de inflação é revisada para baixo em quase 0,5 ponto percentual. Muito provavelmente ainda não será dessa vez que que os índices de preços brasileiros incorporarão ajustamentos pela qualidade dos produtos ("ajustes hedônicos"), algo que diversos países já fazem há pelo menos duas décadas.
Com base no Censo 2022, em algum momento do ano que vem o IBGE deverá publicar uma revisão das séries históricas da Pnad Contínua, pesquisa que acompanha o mercado de trabalho brasileiro (estimando, entre outras variáveis, a taxa de desemprego, o rendimento médio real e o grau de informalidade). A PnadC é uma pesquisa amostral, de modo que, para estimar os valores para o Brasil como um todo, são necessários fatores de extrapolação baseados nos Censos populacionais.
O ápice desse processo de revisão ocorrerá em meados de 2026, quando o IBGE irá divulgar um novo marco metodológico das contas nacionais –ou seja, do PIB. O atual marco, referência 2010, foi introduzido em 2015 e o novo terá como base o ano de 2021. Essa atualização levará em conta novas pesquisas e informações, além de novas recomendações metodológicas internacionais (SNA 2025), e implicará uma revisão das séries históricas do PIB pelo menos desde o ano 2000.
Em 2007 e 2015, quando ocorreram amplas revisões como essa, descobrimos que a economia brasileira era maior e crescia mais do que se estimava anteriormente.
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