Opinião - Bia Braune: Na garupa de Gregory Peck e Fellini, todos os caminhos me levaram a Roma

há 1 dia 1

A via Margutta é estreita e tem calçamento de pedrinhas, como tantas outras ruas do planeta. Seguindo suas coordenadas geográficas (41° 54’ 32" N 12° 28’ 45" E), qualquer pessoa consegue localizá-la rapidamente. Eu, no entanto, levei mais de 40 anos para chegar até lá —e se o fiz, é porque me aboletei na garupa do Gregory Peck.

Toda viagem é um recorte muito pessoal de um imaginário que nos põe em movimento. Uma ida que, de certa forma, é igualmente regresso. E se fui parar na "Cidade Eterna" bem ao estilo "a princesa, o plebeu... e eu", a culpa é das férias romanas que Audrey Hepburn passou nesse clássico de 1953. Um dos filmes da minha vida.

No número 51 da bela e movimentada Margutta, o amor pega os dois protagonistas de jeito —mas não só isso. Com o mapa na mão e o coração cinéfilo na boca, descubro que a locação foi inclusive endereço de Marcello Mastroianni. A 15 minutos do banho seducente de Anita Ekberg na Fontana di Trevi.

Mais adiante, no 78, encontro a porta de Anna Magnani. Um portal, melhor dizendo, que conduz a antigos cinemas do Rio. Onde e quando meu pai engambelava bilheteiros e lanterninhas, a fim de revê-la dezenas de vezes em "A Rosa Tatuada". Um relato que eu, criança, ouvia e reouvia com prazer, ainda tendo o desenho animado dos Mussarellas como maior referência de Roma.

Via Margutta 110, cheguei. Desviando de um caminhão mal estacionado e de uma altercação entre vizinhos num italiano boca-suja maravilhoso, consigo me esgueirar pelos ramos de um arbusto até uma plaquinha que contava: Federico Fellini e Giulietta Masina viveram ali. Os mesmos de tantas noites de Cabíria e Guido Anselmi, de Gelsomina e Casanova, de boas-vidas e o icônico Paparazzo. Nas telas grandes ou diminutas. Em película, DVDs ou fitas VHS mofadas.

Parada, no meio da rua, ouvindo os vizinhos que agora gargalhavam juntos como se em "Amarcord", fui atravessada por uma epifania tão grandiosa que só posso chamar de felliniana. A ponto de um trailer passar na minha cabeça, estrelado por Sophia Loren, Vittorio Gassman, Monica Vitti e Ugo Tognazzi, não deixando nem Terence Hill e Bud Spencer de fora.

Na volta para casa, assistindo —claro— a mais um longa no avião, eis que um personagem se vira para outro e diz: "In Italia tutto torna". Ou seja: a tal ida que sempre será regresso. Roma como nossa própria e eterna Cinecittà.

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