Opinião - Adriana Fernandes: Em compasso de espera do corte de gastos

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A equipe econômica subiu o sarrafo ao falar nos bastidores de Brasília numa economia de R$ 40 bilhões a R$ 50 bilhões com o pacote de medidas de corte de gastos a ser lançado com o fim do segundo turno das eleições municipais.

A expectativa dos agentes econômicos é que o sinal de fumaça das medidas saia ainda nesta semana. Na área econômica, o nível de confiança é bastante elevado de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, conseguirá apoio do presidente Lula às medidas mais potentes de redução de despesas.

A interlocutores, auxiliares do ministro têm feito o diagnóstico de que Haddad é muito mais do que o ministro da Fazenda de Lula e, afinal das contas, passará por cima das resistências dentro do governo e no PT, como fez em outros momentos decisivos para a equipe econômica na gestão Lula 3.

Com a própria equipe econômica puxando o sarrafo do ajuste, o mercado financeiro passou a contar que o pacote de Haddad e da ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) terá medidas de peso. E poderá mexer no BPC (Benefício de Prestação Continuada), abono salarial, seguro-desemprego e no Fundeb, fundo voltado para o desenvolvimento da educação básica.

Algumas dessas medidas circulam no mercado, desde a sexta-feira (25), como candidatas a estarem no pacote, o que segurou o ceticismo das últimas semanas.

O tema corte de gastos voltou com força puxado pelo próprio Haddad, que, para buscar apoio do presidente Lula e no Congresso à agenda fiscal, reconheceu em entrevista à colunista Mônica Bergamo, da Folha, que a dívida pública brasileira "só cresce" e o arcabouço fiscal "não vai funcionar" se o gasto não estiver limitado.

O diagnóstico traçado pelo ministro da Fazenda não é novo. Mas, partindo do comandante da política econômica, ganhou contorno de urgência e pressão que até agora não teve correspondência na ação do presidente Lula nos quase dois anos de mandato.

O retorno da discussão das propostas, que hibernou nas eleições municipais, foi antecipado também por Haddad como antídoto à pauta de reforma da renda.

O mercado reagiu negativamente à revelação pela Folha da proposta de criação de um imposto mínimo para milionários, que eventualmente poderia ser usado para financiar a correção da faixa de isenção da tabela do IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física). Haddad quis barrar a percepção de que a sua equipe só pensa em arrecadar mais.

As discussões de gastos estavam paradas desde julho, quando o governo prometeu fazer uma revisão de despesas de R$ 25,9 bilhões em 2025.

Nesse período, o risco fiscal acabou em alta com investidores pagando para ver o que o governo vai apresentar de propostas e o potencial efetivo delas para a redução de despesas em 2025 e nos anos seguintes.

A questão mais quente segue sendo o potencial do impacto do anúncio para reduzir a cotação do dólar e dos juros de mercado, e depois as chances reais de avançar no Congresso numa pauta que está repleta de de medidas de área econômica, como a reforma tributária.

A reunião de Lula com Haddad nesta segunda-feira (28) reforçou a percepção de que o anúncio do pacote está próximo. Se as medidas foram tímidas e sem apoio do Congresso, a frustração pode levar a uma nova onda de piora da percepção de risco fiscal.

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