Morreu na madrugada desta terça-feira (24) Alceu Collares (PDT), 97, governador do Rio Grande do Sul de 1991 a 1995. Ele foi a única pessoa negra a ocupar o cargo.
Collares morreu em decorrência do agravamento de uma pneumonia. Ele estava internado desde 16 de dezembro no Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre. Há oito anos, teve diagnóstico de enfisema pulmonar. Deixou esposa e dois filhos.
O atual governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), decretou luto oficial por três dias. O velório será realizado a partir de quarta-feira (25) no Palácio Piratini, sede do governo gaúcho.
"Seu legado de luta pela justiça social, pelos direitos dos trabalhadores, pela educação, com a construção dos Cieps, ação pioneira de escola em tempo integral, e pelo desenvolvimento do Rio Grande do Sul, seguirá como inspiração para todos nós", disse o governador em suas redes sociais.
O presidente nacional do PDT, ministro Carlos Lupi (Previdência Social), lamentou a morte e declarou se despedir de "um amigo querido e parceiro de tantas batalhas no PDT".
"Ele foi um exemplo de coragem e dedicação à justiça social, e tive o privilégio de viver ao lado dele momentos marcantes na luta por um Brasil mais justo", escreveu Lupi em suas redes sociais.
Filho de uma família pobre de Bagé (RS), Collares trabalhou como quitandeiro, distribuidor de jornais e carteiro dos Correios antes de se formar em direito pela UFRGS, em 1958. Foi durante a faculdade que ingressou no antigo PTB, pelo qual se elegeu vereador de Porto Alegre em 1962, seu primeiro cargo eletivo.
Durante a ditadura militar, filiou-se ao MDB, único partido de oposição autorizado durante o regime. Foi deputado federal entre 1971 e 1983, período no qual criticou a concentração de renda no país, a liberdade sindical e o restabelecimento de eleições diretas.
Em 1985, foi eleito prefeito de Porto Alegre, cargo que usou como, segundo suas palavras, "uma tribuna de denúncias da ilegitimidade do mandato do presidente José Sarney", que assumiu a Presidência em razão da morte antes da posse de Tancredo Neves, de quem era vice.
Em abril de 1988, acusou Sarney de discriminação devido ao cancelamento de repasse de verbas federais a Porto Alegre.
Como prefeito, foi o primeiro a nomear a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) a um cargo público de primeiro escalão. Ela foi secretária municipal de Fazenda e dirigiu secretaria estadual de Energia, Minas e Comunicações no governo estadual durante a gestão do pedetista. Posteriormente, os dois romperam politicamente.
Em 1990, venceu a disputa pelo Palácio Paratini contra Nelson Marchezan (PDS). Durante o governo Fernando Collor, seguiu a orientação do líder do PDT Leonel Brizola e apoiou administrativamente a gestão federal até o início da crise que levou ao impeachment do ex-presidente, quando romperam politicamente.
Encerrou o mandato como governador com popularidade baixa em razão de uma CPI na Assembleia Legislativa, não conseguindo eleger Sereno Chaise, seu aliado, como sucessor.
Collares retornou à Câmara em 1999 e exerceu o mandato como deputado até 2007. No período, chegou a ser cogitado para disputar a Presidência da República em 2022. Naquela eleição, desistiu de concorrer ao governo gaúcho e foi reeleito deputado federal.
Concorreu à presidência da Câmara em 2005, após a renúncia de Severino Cavalcante (PP). Recebeu apenas 18 votos na eleição vencida por Aldo Rebelo.