Na clínica de Monica Christmas, em Chicago (EUA), ela tem atendido dois tipos de pacientes na menopausa. O primeiro, ela diz, está sofrendo com os sintomas dessa fase da vida, mas tem receios da terapia hormonal, porque ouviu falar dos riscos à saúde relacionados a ela.
O segundo tipo de paciente é quase o oposto: são pessoas que podem nem ter sintomas, mas que pedem hormônios porque ouviram dizer que eles as tornarão mais saudável.
"Nós tendemos a gostar desses extremos", cita Monica Christmas, diretora do Programa de Menopausa e do Centro de Saúde Integrada da Mulher na Universidade de Chicago.
Os dados de prescrição refletem uma persistente ansiedade em torno dos riscos à saúde: em um estudo publicado em setembro, pesquisadores descobriram que apenas 5% das mulheres na menopausa usaram hormônios em 2020, apesar de cerca de 80% das mulheres apresentarem sintomas.
Por outro lado, nos últimos anos, um número crescente de influenciadoras de mídia social e celebridades, como Oprah Winfrey, têm endossado abertamente a terapia hormonal, apresentando-a como um "elixir mágico", diz Monica Christmas.
"Agora há essa mensagem de que toda mulher na menopausa deve estar fazendo terapia hormonal", explica. Mas as mulheres precisam de mais clareza sobre o que a terapia hormonal pode e não pode fazer. "Temos que encontrar um meio-termo."
O que é a terapia hormonal na menopausa?
A terapia hormonal na menopausa, ou THM, repõe parte do estrogênio e progesterona perdidos na menopausa. A Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) aprovou dezenas de tipos de terapias que demonstraram aliviar um conjunto limitado de sintomas, incluindo sintomas vasomotores —como ondas de calor e suores noturnos —e a síndrome geniturinária, que se refere a dor durante o sexo, secura vaginal e infecções urinárias. A terapia hormonal também pode ser usada para prevenir a perda óssea pós-menopausa.
Existem duas grandes categorias de tratamento hormonal: sistêmico, no qual os hormônios podem afetar o corpo inteiro, e local, que são aplicados apenas na vagina. Os tratamentos sistêmicos contêm ou estrogênio isolado ou uma combinação de estrogênio e progestogênio (uma versão sintética da progesterona) e estão disponíveis em forma de pílula, adesivo, gel, creme, spray ou anel vaginal. Eles ajudam a aliviar ondas de calor e suores noturnos e podem prevenir a osteoporose.
O estrogênio sistêmico isolado pode levar ao espessamento do revestimento uterino, o que aumenta o risco de câncer endometrial, disse Stephanie Faubion, diretora do Centro de Saúde da Mulher da Mayo Clinic e médica diretora da Sociedade de Menopausa. Mulheres que tiveram o útero removido podem usar estrogênio isolado com segurança, mas outras precisam tomar algum tipo de progestogênio também para contrabalançar seus efeitos.
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Os tratamentos locais aplicados na vagina contêm doses mais baixas de estrogênio e são principalmente destinados a tratar sintomas como secura vaginal e dor durante o sexo.
A THM não é aprovada para tratar os vários outros sintomas da menopausa, como depressão, ansiedade, ombro congelado, ganho de peso ou queda de cabelo, disse Makeba Williams, professora de obstetrícia e ginecologia na Washington University School of Medicine em St. Louis. No entanto, a Sociedade de Menopausa, que define as diretrizes de tratamento, observou em sua declaração anual de posição que algumas pacientes que iniciam a terapia hormonal percebem pequenas melhorias em alguns desses sintomas também.
Versões anteriores da terapia hormonal aprovada pela FDA, que ainda estão disponíveis hoje, contêm estrogênio conjugado, derivado da urina de éguas grávidas, enquanto os produtos mais comumente prescritos hoje (também aprovados pela FDA) contêm estrogênio bioidêntico, derivado de fontes vegetais e com uma estrutura molecular mais similar aos hormônios que o corpo cria. Não há estudos de qualidade que comparem diretamente os hormônios conjugados com os bioidênticos, disse Stephanie Faubion, então ainda não temos uma compreensão detalhada de como os riscos e benefícios deles se comparam.
Para quem é indicada?
De acordo com a Sociedade de Menopausa, a terapia hormonal oferece alívio mais eficaz e apresenta menos riscos para mulheres que estão sofrendo de sintomas vasomotores ou síndrome geniturinária e têm menos de 60 anos ou estão a menos de uma década da última menstruação, em comparação com aquelas que a iniciam mais tarde na vida.
A terapia hormonal não é recomendada para mulheres com histórico de AVC, infartos, coágulos sanguíneos, doenças hepáticas, sangramentos vaginais inexplicáveis ou cânceres sensíveis ao estrogênio, como os de mama ou útero, pois pode piorar essas condições.
O que sabemos sobre os riscos e benefícios da terapia hormonal?
O estudo pioneiro Women’s Health Initiative, que foi e ainda é o único ensaio randomizado de longo prazo sobre a terapia hormonal, foi interrompido precocemente em 2002 porque os pesquisadores descobriram que o tratamento elevava os riscos de câncer de mama e eventos cardiovasculares. O estudo gerou um pânico generalizado que fez muitas mulheres abandonarem os tratamentos.
Desde então, no entanto, os pesquisadores reanalisaram os dados e estudos de acompanhamento mostraram um quadro mais nuançado: dose, método de administração e a idade em que a terapia é iniciada fazem uma grande diferença nos riscos, afirma Makeba. E, em muitos casos, os benefícios —incluindo uma melhora na qualidade de vida— podem superar os riscos, acrescentou.
Entre mulheres sintomáticas com menos de 60 anos, os dados reanalisados do estudo mostraram que, a cada 10 mil mulheres usando terapia hormonal (especificamente estrogênio conjugado e uma pílula de progestogênio), houve seis casos adicionais de câncer de mama, embora não mortes por câncer de mama, e cinco casos adicionais de doenças cardíacas coronárias e AVC.
Enquanto isso, a terapia hormonal reduziu significativamente os riscos de fraturas, mortalidade por todas as causas e diabetes. Para mulheres que tomam estrogênio isolado, estudos têm concluído que a terapia hormonal reduziu os riscos de câncer de mama e doenças cardiovasculares —uma descoberta que ainda não é completamente compreendida.
Os sintomas não tratados da menopausa têm sido associados a condições crônicas de saúde a longo prazo mais tarde na vida, incluindo doenças neurodegenerativas, embora ainda não se saiba se os sintomas causam a má saúde ou se são marcadores de outro problema subjacente.
A Sociedade de Menopausa, dos Estados Unidos, alerta que, para mulheres que iniciam a terapia hormonal após os 60 anos, os riscos de câncer de mama e eventos cardiovasculares aumentam.
"Se você ler a bula, vai dizer ‘isso pode te dar câncer de mama, isso pode te dar um infarto’, então ainda existe esse legado de medo", diz Makeba. Mas "precisamos continuar a educar sobre quais são os reais riscos, os benefícios e para quem a terapia hormonal é apropriada e não".