"Meu marido é uma boa pessoa, mas frequentemente diz coisas que eu acho dolorosas ou insensíveis. Eu sei que sou uma pessoa sensível –talvez até demais– mas o que ele fala está me distanciando. Minha mãe era crítica em relação ao meu pai, e ele acabou a deixando por causa disso. Eu não quero ser como ela, mas também não sei como falar sobre meus sentimentos sem parecer muito insegura ou agir igual minha mãe. Então, acabo não fazendo nada e me sentindo ressentida. Alguma recomendação?"
No cerne desta pergunta de um dos meus pacientes, está a capacidade de deixar nossos desejos bem claros.
Como psicólogo que trabalha com casais e famílias há quatro décadas, acredito que os relacionamentos podem sofrer quando os parceiros não sabem como dar e receber um feedback construtivo.
O segredo, na minha opinião, é aprender a abordar preocupações de uma forma que promova entendimento em vez de ressentimento.
Aqui estão algumas diretrizes que sugeri ao meu paciente, que também podem ajudar outros:
Escolha o momento certo
Comece dizendo a ele que você tem algo que gostaria de discutir e pergunte se este é um bom momento. Se ele disser que não, pergunte quando seria e não aceite um "nunca" como uma resposta razoável.
Avalie a gravidade
Classifique sua reclamação em uma escala de um a dez, onde um é "trivial" e dez é "estou pensando em me separar se isso não for resolvido".
Você pode dizer: "em uma escala de um a dez, é um três. Mas ainda gostaria que isso melhorasse".
Se estiver mais próximo de um dez, diga: "Estou preocupada que se isso não melhorar e vamos chegar a uma etapa sem retorno e eu não quero que chegamos lá".
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Seja direta
A professora de psicologia E. Mavis Hetherington descobriu em seu estudo de longo prazo sobre divórcio que 25% dos homens ficaram completamente surpresos quando suas esposas lhes entregaram os papéis da separação. Seu parceiro pode não perceber o quão infeliz você está e achar que você está feliz ou feliz o suficiente no relacionamento.
É essencial reconhecer aquilo que você ama em seu marido, não apenas o que gostaria de mudar. Seja clara, não acusatória. Para isso, diga o que você claramente valoriza ou aprecia nele antes de expressar sua reclamação.
Você pode dizer: "você é um ótimo pai, e as crianças realmente te amam. É ótimo para mim saber disso. Também estou pensando em uma maneira de a gente trabalhar a forma como você expressa sua frustração com eles, porque acho você não está percebendo isso".
Essa abordagem suaviza a conversa e aumenta a probabilidade de uma resposta positiva.
Compartilhe sua aflição
Deixe-o saber que expressar preocupações é difícil para você e por quê. Explique suas experiências passadas para ajudá-lo a desenvolver empatia pela sua posição.
Espere alguma resistência
Ele pode não concordar imediatamente com sua perspectiva. Dê espaço para ele responder sem interrupções e permaneça aberta ao feedback dele.
Agradeça por ouvir e se envolver na conversa.
Obtenha mais ajuda
Se você não está em terapia, dedique tempo para se tornar menos influenciada por suas experiências na infância.
Ser mais assertiva não significa ser excessivamente crítica, como você acredita que sua mãe era.
Significa ser capaz de expressar sua dor a partir dos comentários dele de forma clara e construtiva. É possível que seu marido seja muito frágil para aceitar qualquer feedback de sua parte –não importa o quão cuidadosamente você se coloque– e isso pode criar mais distância do que proximidade.
Ou ele pode surpreendê-la mostrando que se importa mais com sua felicidade do que com o desconforto de ouvir o que o incomoda.
Administre suas expectativas amorosas
Às vezes, nossas reclamações sobre os parceiros derivam de expectativas irrealistas sobre o que um romance pode ou deve proporcionar.
Imaginamos que há alguém "por aí" que pode compensar tudo o que não recebemos na infância, curar todas as nossas inseguranças e fornecer uma fonte infinita de estímulo e prazer. Embora um bom relacionamento ofereça apoio e felicidade, também inclui tédio, conflito e compromisso.
O pesquisador matrimonial John M. Gottman descobriu que mesmo em relacionamentos de longo prazo bem-sucedidos, 69% dos conflitos permanecem não resolvidos devido a diferenças fundamentais na personalidade, preferências de estilo de vida ou valores.
Em vez de buscar uma "solução", busque entendimento mútuo em áreas comuns de conflito como desejo sexual, parentalidade, finanças, tarefas domésticas e tempo gasto com outras pessoas.
Gottman também descobriu que expressões contínuas de respeito, humor e afeto são essenciais para um relacionamento feliz. Sentir-se compreendido significa estar disposto a ouvir sem reagir, se defender ou criticar. Não é tarefa fácil, mas os benefícios são enormes.
"Antes de dizer que não se sente ouvido, considere o quão bem você escuta."
Um relacionamento romântico próspero requer um equilíbrio entre nutrir altruisticamente a felicidade do nosso parceiro e honrar nossas próprias necessidades de alegria e realização.
Priorizar a felicidade dos outros em detrimento da nossa pode nos fazer se sentir desvalorizados, ressentidos e exaustos –focar apenas na nossa felicidade enquanto negligenciamos a dos outros pode fazê-los se sentir invisíveis e não amados.
Aprender a reclamar de forma produtiva é uma parte fundamental desse equilíbrio, pois as frustrações não resolvidas simplesmente não desaparecem –elas crescem, criando distância emocional e ressentimento.
No entanto, quando abordados com honestidade, empatia e um compromisso sincero com a compreensão mútua, os conflitos podem servir como momentos cruciais de crescimento, fortalecendo o relacionamento em vez de desestabilizá-lo.