Em pleno Carnaval e na ressaca de um Oscar que mobilizou todo o país, outros brasileiros têm os olhos voltados para Madri. A capital espanhola é o destino obrigatório de galeristas atrás de uma espécie de abre-alas mais potente de vendas neste ano, que andam devagar mesmo depois da Frieze, numa Los Angeles destruída pelos incêndios de janeiro, e da Zona Maco, numa Cidade do México mais morna, os dois grandes eventos do calendário até o momento.
Serão 20 casas brasileiras na Arco, uma presença recorde numa feira que já foi a principal porta de entrada de artistas latino-americanos no mercado europeu, foi perdendo relevância com os anos e agora parece retomar seu prestígio ante a gigantesca Art Basel Miami Beach, sua maior rival no planeta, no xadrez global da arte latino-americana. É uma espécie de retorno em grande estilo do primeiro escalão das casas do país a um evento que há décadas tem projetado o melhor da arte da região para o resto do planeta.
E parece que estenderam mesmo um tapete vermelho, convidando Denilson Baniwa para orquestrar toda uma seleção de artistas em grande parte indígenas ou que retratam a Amazônia em seus trabalhos. Nessa seleção, a galeria Danielian leva peças históricas de Anna Bella Geiger, com valores de R$ 30 mil a R$ 250 mil, e a Carmo Johnson Projects mostra trabalhos do coletivo Mahku, grande estrela da última Bienal de Veneza, na Itália, e Naine Terena. Já a galeria Vermelho terá trabalhos de Claudia Andujar, figura central na demarcação das terras yanomamis e uma das maiores ativistas do país.
Na Millan, mais nomes indígenas e ecos da Bienal de Veneza. A galeria paulistana que acaba de ser incorporada ao império que o grupo Almeida & Dale vem construindo terá trabalhos de Daiara Tukano e Gustavo Caboco, um dos artistas que organizou o pavilhão brasileiro na última mostra italiana.
ARTE DO ENCONTRO Galeria do mesmo grupo com sede em Goiânia, a Cerrado destaca os artistas do projeto Sertão Negro, escola artística fundada por Dalton Paula, um dos nomes mais celebrados do país.
MAIS DUPLAS Outros encontros marcam a seleção das galerias. Enquanto a paulistana Marcelo Guarnieri opõe as pinturas de Alice Shintani às esculturas de Liuba, uma artista que vem chamando mais a atenção no mercado internacional, a Raquel Arnaud também faz um confronto de gerações, contrastando desenhos de Carla Chaim às esculturas de Waltercio Caldas, um dos grandes mestres da arte conceitual do país, obras avaliadas entre R$ 30 mil e R$ 370 mil. Na Luciana Brito, pai e filha, Analivia Cordeiro e Waldemar Cordeiro, também se encontram, em peças que vão de R$ 30 mil a R$ 4,7 milhões.
O PAPA É POP Outra seleção de obras que chega à feira num momento noticioso oportuno, ou infeliz, é uma série de trabalhos do artista argentino León Ferrari inspirados por sua oposição aos desmandos da Igreja Católica, isso quando Jorge Bergoglio, o atual papa Francisco, dava as cartas em Buenos Aires. Entre as peças está "A Civilização Ocidental e Cristã", escultura que retrata Cristo crucificado na fuselagem de um caça de guerra, avaliada em cerca de R$ 530 mil.
ESPACIAL Uma obra de Eduardo Kac, a minúscula escultura "Adsum", fez uma viagem bem mais longa do que de Chicago, onde vive o artista brasileiro, a Madri. Ela foi levada à Lua por módulo espacial da empresa Firefly Aerospace, num voo de R$ 600 milhões a serviço da Nasa, e estará à venda na Arco por R$ 190 mil.