O Ford Escort RS de primeira geração, lenda dos ralis, volta como 0km

há 1 semana 3

Quando se fala em Ford Escort, os brasileiros logo se lembram do modelo com carroceria “dois volumes e meio”, motor transversal e tração dianteira lançado aqui em 1983. O Escort nacional, contudo, já correspondia à terceira geração (Mk III) fabricada na Europa. 

Com motor longitudinal e tração traseira, a duas primeiras gerações do Escort são desconhecidas no Brasil, apesar de terem feito imenso sucesso em outros países  — no vizinho Uruguai, por exemplo, ainda se veem muitos Mk I e Mk II “na ativa”.

Escort RS 1600 original, de 1970

Foto de: Jason Vogel

Escort RS 1600 original, de 1970

Esses carros hoje são lembrados especialmente por seus êxitos nos ralis. Foi com um Escort Mk I, por exemplo, que Hannu Mikkola e Gunnar Palm venceram o épico Rali da Copa do Mundo, realizado em 1970 entre Londres e a Cidade do México, via Rio de Janeiro. Entre os oito primeiros colocados dessa prova-maratona de 25.700 km havia nada menos que cinco Escort. Não à toa, os Ford mais brabos usaram por muitos anos a sigla RS, de Rally Sport.

Um salto no tempo e chegamos a 2002, quando Ford europeia tirou de cena o Escort (a essa altura já na geração Mk VI) para abrir espaço de vez para o Focus, que havia sido lançado em 1998. O nome Escort ainda teve um surpreendente retorno na China, em 2015, mas esse revival foi breve, já que o modelo saiu de linha no ano passado. 

“CONTINUMOD”

Agora é o Escort Mk I (1967-1975) que está de volta como um empolgante esportivo. Mas, desta vez, o envolvimento da Ford é apenas parcial. Você certamente já ouviu falar em restomods, carros antigos restaurados com modificações para melhorar seu desempenho e conforto. Só que esse Escort revivido está sendo chamado de "continumod". Vamos explicar… 

Com a bênção da Ford, a empresa britânica Boreham Motorworks está trazendo de volta o Escort Mk I RS com uma abordagem continumod. Esse termo refere-se a um “veículo construído do zero, com precisão de projeto e respeito ao período”. Em outras palavras, são carros totalmente feitos agora (monobloco e motor, inclusive), em vez de serem restaurações de exemplares antigos, como é comum em projetos de restomod.

Na cidadezinha inglesa de Boreham funcionou, entre 1965 e 2015, a Ford Racing (ou Team RS), divisão de competições da companhia. Os Escort RS originais foram preparados lá. 

Como a atual companhia Boreham Motorworks é uma parceira licenciada pela Ford, o “novo” Escort RS Mk I é tecnicamente um modelo continuado  — com direito a numeração de chassi fornecida pela Ford. Dá prosseguimento a uma história iniciada com o Escort RS 1600, de 1970 (o último Escort RS Mk I foi da série RS 2000, fabricado em 1974, há exatos 50 anos).

Escort RS 2000 Mk I original, de 1974

Foto de: Jason Vogel

Escort RS 2000 Mk I original, de 1974

O novo RS Mk I homenageia o carro original mantendo as linhas clássicas de seu antecessor, mas modernizando a mecânica dentro de seu monobloco retrô. O motor original Lotus-Ford Twin Cam 1.6, de 117 cv foi substituído por outro maior, de 1,8 litro e 182 cv, conectado a uma caixa manual Ford Bullet de quatro marchas, com engrenagens de corte reto. Embora isso não pareça muita potência para os padrões atuais, a Boreham Motorworks mira em um peso em ordem de marcha de apenas 800 kg. Para comparação, o atual Mazda MX-5 em sua configuração mais leve (série especial japonesa 990S) pesa 190 kg a mais que esse Escort.

Como opção, há um motor ainda maior, de 2,1 litros, capaz de render impressionantes 300 cv, graças aos melhores venenos hoje disponíveis na Inglaterra para os Lotus-Ford Twin Cam. Gira a incríveis 10.000 rpm e transmite a potência para as rodas traseiras por meio de uma caixa de câmbio manual de cinco marchas.

Ambos os motores são equipados com injeção eletrônica, e o mais potente tem ainda controle eletrônico do acelerador. Assim como nos velhos tempos, o carro não traz “ajudas” como ABS, assistência na direção, controle de tração ou mesmo servo-freio. No entanto, há discos de freio nas quatro rodas e a suspensão foi toda otimizada com geometrias e materiais modernos. As clássicas rodas de 15 polegadas com quatro raios preenchem bem os para-lamas alargados. Agora são calçadas com pneus 205/50 R15 na frente e 225/50 R15 atrás, com aderência infinitamente superior a dos conjuntos usados nos anos 60 e 70.

O monobloco é todo de aço, mas o capô dianteiro e a tampa da mala são de fibra de carbono. Tudo foi refeito a partir dos desenhos técnicos dos anos 60, mas agora com auxílio de modelos digitais para aprimorar o carro estruturalmente. Cada detalhe foi reconstruído nas dimensões originais, mas levando em conta padrões e tolerâncias atuais. 

Escort RS Mk I revivido pela Boreham Motorworks (13)

Foto de: Jason Vogel

Escort RS Mk I revivido pela Boreham Motorworks (13)

O interior tem dois bancos tipo concha modernos e uma gaiola que confere maior rigidez ao monobloco, além de garantir proteção. A pedido dos clientes, a Boreham Motorworks pode enriquecer a cabine com acabamentos em alcantara e couro. Há também a opção de um cinto de segurança de quatro pontos e um compartimento em fibra de carbono na parte traseira para armazenar capacetes. Como concessões à modernidade, o carro vem equipado com faróis de LED, ar-condicionado, uma pequena central multimídia, instrumentos com mostradores de alumínio anodizado e novos volante e pedais.

O susto vem ao se ver a tabela: o preço inicial é de £ 295.000, cerca de R$ 2,3 milhões na taxa de câmbio atual. A produção do continumod da Boreham Motorworks será limitada a 150 unidades e contará com uma garantia de dois anos ou 20 mil milhas (32 mil quilômetros). O início da produção está previsto para o terceiro trimestre de 2025. Um prato cheio para quem é bilionário e gosta de participar de ralis de clássicos.

A Boreham Motorworks não pretende parar no Escort Mk I e já anuncia um continumod do RS200, carro com motor central e tração integral que a Ford fez para disputar o insano Grupo B do mundial de Rali entre 1984 e 1986.

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