Após o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) ter claramente voltado suas atenções para o mercado de trabalho em sua última reunião de política monetária, a inflação pode entrar novamente no foco, após a divulgação do CPI de setembro, alertam economistas. Ou seja, a ameaça de uma desinflação ao consumidor mais lenta que a esperada permanece.
Segundo o Departamento do Trabalho, o índice de preços ao consumidor subiu 0,2% em setembro ante agosto, enquanto o indicador de 12 meses voltou a desacelerar, para 2,4%, o menor aumento nessa leitura desde fevereiro de 2021.
Mas núcleo da inflação teve nova alta mensal de 0,3% em setembro, com avanço anual nessa leitura saindo de 3,2% para 3,3% em um mês.
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Andressa Durão, economista do ASA, destaca que a inflação de aluguéis não foi o problema desta vez, já que desacelerou em linha com o esperado. Mas ela observa que outros itens de serviços, como passagens aéreas e cuidados de saúde vieram mais fortes, pressionando os núcleos, embora tenham sido parte compensados por uma deflação não esperada em hospedagem.
“O número traz de volta o risco de um retorno mais lento da inflação à meta e corrobora uma desaceleração do ritmo de queda dos juros por parte do Fed na reunião de novembro, já que a ameaça de deterioração adicional do mercado de trabalho foi reduzida com o último relatório de emprego [payroll]”, afirma.
Ela adverte que, se for retomado o cenário de emprego forte, o Fed vai volta a olhar para a inflação como principal fator para as decisões de juros no curto prazo.
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Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, por sua vez, comenta que a evolução dos preços se concentrou nos setores de habitação e alimentação e que número veio marginalmente acima das expectativas.
“Os dados da CPI referente ao mês de setembro deixam algumas dúvidas sobre o processo de desinflação nos EUA. De um lado temos o índice cheio mantendo a trajetória de queda e se aproximando da meta de 2%. De outro, a medida de núcleo voltou a acelerar, ainda que marginalmente”, destaca.
Para ele, os dados não alteram a percepção de que é provável que o Fed decida por dois cortes de 0,25 ponto percentual nos juros até o final do ano, mas o ajuste para cima no núcleo certamente vai aumentar a ansiedade com relação à próxima divulgação do PCE, a inflação do consumo.
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“Olhando para frente ainda vamos ter que incluir nas projeções os potenciais impactos decorrentes dos impactos dos furacões que atingiram o sul do país. Antecipar o que vem por aí em relação à dinâmica inflacionária ficou um pouco mais difícil”, avalia.
Na opinião de Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, o núcleo do CPI veio um pouco mais pressionado por bens e serviços, mas essa pressão decorreu, principalmente, do aumento de itens que não costumam apresentar persistência, como passagens aéreas e aluguéis de veículos.
Ela reforça que os números mostram uma inflação controlada, mas ainda acima da meta. “Para nós, a inflação moderada deve levar o banco central americano a continuar o ciclo de cortes de juros com reduções graduais, de 25 pontos-base. No entanto, se os números do mercado de trabalho mostrarem uma deterioração, o Fed pode, em algum momento, ampliar a magnitude do corte para 50 pontos-base.”
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André Valério, economista sênior do Inter, por sua vez, explica que o desempenho do núcleo preocupa por ser o segundo mês consecutivo em que vem acima do esperado e se mantendo em 0,3%, além de manter o crescimento em 12 meses em patamar elevado e distante da meta, em 3,3%.
“A boa notícia foi a desaceleração na inflação de habitação, que recuou de 0,5% em agosto para 0,2%. Mas ainda assim, vimos a inflação de serviços excluindo serviços de energia mantendo-se em patamar elevado, com alta de 0,4% e 4,7% nos últimos 12 meses.”
Ele destaca que a mesma tendência se percebe no chamado super núcleo, que é o núcleo da inflação de serviços excluindo os gastos com habitação, que avançou 0,4% no mês, alcançando 4,4% nos últimos 12 meses.
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“Dado o último payroll, muito acima do esperado e com aceleração nos salários, o resultado do CPI de hoje não foi reconfortante para o Fed. O payroll já havia sido forte o suficiente para fechar a porta para um novo corte de 50 pontos base na reunião de novembro, e o CPI de hoje confirma essa tendência”, comenta.
Valério lembra que até a próxima reunião, haverá mais uma divulgação de payroll, que será fundamental para o próximo passo da política monetária. “Caso tenhamos outro relatório de emprego tão forte quanto o último, o Fed pode se ver na posição de não cortar em novembro. Os mercados já preveem esse cenário, com uma probabilidade de 16%”, opina.
O economista do Inter mantém a previsão de que o Fed ainda tem condições de cortar 25 pontos-base em novembro, mas destaca que a incerteza sobre a taxa terminal começa a aumentar.
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Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o grande destaque negativo do mês foi o setor de energia e combustíveis.
“Embora os preços do petróleo tenham começado a subir novamente em outubro, setembro foi um mês de fortes quedas, com os preços da gasolina caindo 4%, a maior queda do ano, e o setor de energia registrando queda de 6%. Diferente do Brasil, nos Estados Unidos o impacto dos preços internacionais do petróleo se reflete rapidamente nos preços domésticos.”
Para ele, apesar dessas flutuações, o cenário não mudará significativamente a política do Banco Central norte-americano, que provavelmente manterá os dois cortes de 0,25 previstos para este ano.