Esta é a edição da newsletter Tudo a Ler desta quarta-feira (20). Quer recebê-la no seu email? Inscreva-se abaixo:
Tudo a Ler
Receba no seu email uma seleção com lançamentos, clássicos e curiosidades literárias
"Modéstia à parte, foi a nossa geração que cavou esse caminho"
Foi o que Conceição Evaristo afirmou na Festa Literária das Periferias, a Flup, em mesa com a britânica Bernardine Evaristo. Apesar do sobrenome, as duas escritoras não são parentes, mas compartilham algo tão forte quanto o DNA, uma mesma luta.
Conceição e Bernardine, como conta o jornalista Walter Porto, "se irmanaram ao dizer que jovens negros de hoje encontram caminho mais fácil de reconhecimento depois que a geração delas derrubou portas teimosamente fechadas".
Na festa das periferias, o afrocentrismo esteve em foco e mesas majoritariamente negras provocaram pessoas pretas a se entenderem e se narrarem.
Para a romancista Luciany Aparecida, que participou de uma dessas mesas, "é revolucionário ser lida".
Acabou de Chegar
"Cassandra em Mogadício" (trad. Francesca Cricelli, Nós, R$ 89, 376 págs.) é um relato memorialístico da escritora somali-italiana Igiaba Scego destinado à sua sobrinha Soraya. Scego recompõe a dispersão de seus parentes desde a diáspora somaliana. Para a crítica Fabiana Carneiro da Silva, a narrativa "põe em prisma as experiências de quem partiu, de quem ficou e de quem nunca esteve no território de origem".
"Ritmo Humanegrítico: Antologia Poética" (Companhia das Letras, R$ 89,90, 272 págs., R$ 44,90, ebook), novo livro de poemas de Cuti, aborda contradições e dramas de nossa época —fake news, fanatismo religioso e a iminência de uma guerra mundial são alguns assuntos tematizados na coletânea. Na opinião do crítico Ronaldo Vitor da Silva, o autor usa a poesia para "afirmar sua humanidade enquanto sujeito negro".
"Notas Ordinárias" (trad. Jess Oliveira, Fósforo, R$ 109,90, 480 págs., R$ 76,90, ebook), de Christina Sharpe, desfaz a ideia de uma branquitude intacta e exige que as pessoas brancas façam uma autocrítica. Segundo a crítica de Tássia Nascimento, o racismo aparece na obra como "ordem do dia" e o modo de estar de Sharpe é atravessado pela brutalidade do preconceito.
E mais
Pela primeira vez, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil registrou que no Brasil há mais pessoas que não leem do que leitores. "Isso quer dizer que, entre as pessoas entrevistadas, 53% não leram nem uma parte de um livro nos três meses anteriores à pergunta", como explica o editor Walter Porto.
"O Cinema de Perto" (Record, R$ 89,90, 308 págs.) reúne a produção em prosa e verso de Carlos Drummond de Andrade sobre a sétima arte. Entre textos publicados em jornais de 1920 a 1980, o jornalista Sérgio Augusto aponta um Drummond saudosista, nostálgico, eclético em suas preferências cinematográficas, "cordial com o cinema brasileiro e atento aos seus eternos problemas de produção e distribuição".
Domício Baeta, protagonista de "A Extraordinária Zona Norte" (Todavia, R$ 79,90, 232 págs., R$ 64,90, ebook), lançamento de Alberto Mussa, é um detetive avacalhado no melhor molde carioca, que perde o rastro da mulher que investiga por suposto adultério porque se distrai lendo Nelson Rodrigues. O Rio de Janeiro de Mussa é definido por seus crimes e, para o crítico Alvaro Costa e Silva, o resultado é uma narrativa caótica que surge na mais perfeita ordem.
Para o neurocientista francês Stanislas Dehaene, autor de "É Assim que Pensamos" (trad. Rodolfo Ilari, Contexto, R$ 109,90), a nossa sociedade superestima a consciência, colocando-a acima de outros mecanismos cerebrais que podem ser mais definidores de nossa espécie em oposição a outros animais. Dehane contou à repórter Ana Bottallo que estudos científicos sobre a consciência demoraram a avançar porque, por muitos anos, ela era considerada uma questão filosófica.
Além dos Livros
Na última segunda-feira, reabriu em São Paulo a livraria que inspirou o projeto da Lei Cortez, que propõe limitar descontos de livros recém-lançados. O Painel das Letras conta que a Livraria das Perdizes foi fundada nos arredores da PUC, em um espaço ligado à Cortez Editora, mas fechou em 2016 por causa de turbulências na economia.
Nos Estados Unidos, livros estão sendo retirados de bibliotecas públicas e escolas por pedidos de pais incomodados. Para os opositores, essa ação é uma censura. Dos livros proibidos, 57% tinham conteúdos relacionados a sexo, 44% incluíam personagens não brancos e 39% apresentavam personagens LGBTQIA+. Para o repórter Eduardo Moura, esse movimento reflete a eleição de Trump, que inclusive é apoiador dos grupos de pais que pedem o banimento de livros.
Já no Brasil, o ministro Flávio Dino, do STF, determinou a retirada de circulação de obras jurídicas com conteúdo que avaliou como preconceituoso com a comunidade LGBTQIA+. Segundo a reportagem de Ana Pompeu, a decisão suscitou um debate sobre liberdade de expressão, com um lado que acredita que a decisão reforça a própria democracia ao combater discurso com conteúdo considerado violento e outro que se preocupa com o uso indiscriminado de medidas do tipo.