Ney Latorraca, morto neste quinta-feira (26), e Tarcísio Meira protagonizaram uma das cenas mais simbólicas e emblemáticas do cinema brasileiro: um dos primeiros beijos homossexuais nas telas, no filme "O Beijo no Asfalto", de 1981.
Dirigido por Bruno Barreto e baseado na obra teatral homônima de Nelson Rodrigues, o filme narra a história de Aprígio, um bancário interpretado por Tarcísio Meira, que testemunha o atropelamento de Arandir, vivido por Ney Latorraca. Em seus últimos instantes de vida, Arandir faz um pedido inusitado: um beijo na boca. Em um gesto de empatia e compaixão, Aprígio atende ao desejo. No entanto, o ato é transformado em escândalo pela mídia sensacionalista e pela sociedade moralista, fazendo com que Aprígio passe a ser alvo de preconceito e hostilidade.
A narrativa contrapõe a humanidade do gesto —atender ao último pedido de uma pessoa— à hipocrisia social que o transforma em um ato condenável. "O Beijo no Asfalto" é uma obra que expõe os tabus da época e se destaca como um dos momentos mais provocativos da trajetória de Nelson Rodrigues.
O lançamento do filme gerou reações controversas. Enquanto parte do público o rejeitou, outra parte elogiou a coragem tanto de Tarcísio Meira, um dos principais galãs da época, quanto de Ney Latorraca.
Ney sempre abordou sua homossexualidade de forma aberta, sem nunca escondê-la. Nos anos 1990, por exemplo, posou ao lado de seu marido, Edilson Botelho, na capa da revista Su Generis, após anos posando ao lado de grandes estrelas e companheiras de cena, como Vera Fisher e Silvia Bandeira.