Folha elege os melhores shows de 2024, segundo críticos e jornalistas; veja

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O ano de 2024 trouxe diversos shows marcantes no mundo da música, que contemplaram os mais variados estilos e grupos de fãs.

A Folha convidou seis profissionais especializados em música para listar os cinco melhores shows que assistiram este ano. O resultado é uma seleção diversificada, que transita pelo pop, MPB e rock, destacando as maiores experiências de 2024.

Confira a lista completa abaixo, em ordem alfabética:

Amanda Cavalcanti
Jornalista especializada em música

DJ Dayeh (Mamba Negra, Fabriketa), fevereiro

O funk paulista vive o seu melhor momento, e a DJ e produtora Dayeh é uma de muitos grandes expoentes que ele produziu nos últimos anos. Com um set hipnotizante de "bruxaria", o subgênero de funk paulista que mais cresce desde a pandemia, Dayeh encurtou a distância entre os bailes funk e as festas eletrônicas em sua apresentação na Mamba Negra em fevereiro.

Karol G (Centro Esportivo Tietê), maio

Ninguém pode dizer que a Karol G não se esforçou para deixar uma impressão nos fãs brasileiros. Vestindo a camisa do Brasil e convidando participações de Pabllo Vittar, Dennis DJ e Kevin o Chris, a colombiana fez o show completo de sua turnê Mañana Será Bonito –que, aliás, se tornou a turnê latina com a segunda maior bilheteria de todos os tempos, atrás apenas de uma turnê de Bad Bunny. Teve troca de cenário e muitos efeitos especiais, mas teve principalmente muito carisma e reggaeton dançante da cantora.

Karate (Cine Joia), agosto

Nem só de showzão se vive a vida, e a apresentação do trio americano Karate no Cine Joia deu a impressão de ser ainda mais intimista do que de fato foi pelo clima no lugar. Parecia que todo mundo ali se conhecia e estava igualmente emocionado de viver um momento catártico com uma banda que nunca tinha passado pelo Brasil, e que não lança um álbum novo há 20 anos. Trazido pelo selo paulistano Balaclava Records, o show foi único.

Lulu Santos (Coala Festival, Memorial da América Latina), setembro

Encerrando o fim de semana do Coala Festival 2024, Lulu Santos não teve dó do público: foi um hit atrás do outro, sem tempo pra respirar. De baladas como "Apenas Mais Uma de Amor" a momentos mais animados como "Sábado à Noite", Lulu fez um show elegante e atemporal, contando ainda com a participação de Liniker e Tulipa Ruiz, artistas que herdaram sua sensibilidade romântica e pop para a música popular brasileira.

Mariah Carey (Allianz Parque), setembro

Junto com o anúncio dos shows de Mariah Carey no Brasil, os primeiros desde que ela se apresentou na Festa do Peão de Boiadeiro, em Barretos, há 14 anos, veio a dúvida: será que ela ainda entregaria todos os agudos de passarinho por qual ficou conhecida nos anos 1990? Tive o grande prazer de descobrir que sim em sua apresentação no Allianz Parque, em São Paulo. Mariah entregou o show de uma verdadeira diva: vestidos longos e brilhantes, sua famosa pausa pra cantar sentada num sofá no palco, muitos hits e muito gogó.


Guilherme Luis
Repórter da Folha

Cyndi Lauper (Rock in Rio), setembro

Um holofote do dia feminino do Rock in Rio, Cyndi Lauper enfeitiçou a plateia com seus vocais afinadíssimos e mostrou um molejo que já não existe nas divas de hoje.

Ivete Sangalo (Rock in Rio), setembro

O melhor show do Rock in Rio deste ano foi da artista que mais pisou nos seus palcos. Ivete Sangalo se provou maior diva pop brasileira com o combo completo: sequência de hits, coreografia no ponto, uma bitoquinha durante sua ótima parceria com Liniker, e, para coroar, um voo ao som de "Eva".

Katy Perry (Rock in Rio), setembro

Salva pelo gongo. Ninguém esperava muito do show de Katy Perry após sua passagem constrangedora por programas da Globo e com seu disco medíocre "143" tendo sido lançado naquele mesmo dia. Mas ela surpreendeu com um show de alto naipe, que priorizou seus muitos sucessos, embalados num palco megaproduzido. Supercarismática, Katy parecia desesperada por encantar o público de novo. Conseguiu.

Sam Smith (Lollapalooza), março

Escutei muito as músicas sofridas de Sam Smith na última década, então era difícil me desapontar ao ouvi-las num show pela primeira vez. Mas, para além da nostalgia, Sam Smith se provou artista de voz poderosa, feita para a sofrência que sempre dá tão certo nas rádios brasileiras. De quebra, Smith se dá bem também no pop erótico e teatral de "Unholy", uma das poucas coisas boas que fez nos últimos anos.

SZA (Lollapalooza), março

SZA é um acontecimento, e já passava da hora de ela cantar por aqui. Monumento de um ano fraco do Lollapalooza, ela mostrou que precisava de muito mais que uma hora e meia para desfilar seu R&B que é, ao mesmo tempo, clássico, parrudo, e cheio de frescor.


Lucas Brêda
Repórter da Folha

Madonna (praia de Copacabana), maio
Ela nem precisava ter subido no palco para que sua passagem pelo Brasil este ano fosse inesquecível. O Rio de Janeiro se transformou numa grande pista de dança nesta celebração de prazeres.

João Gomes com Don L (festival Psica), dezembro
O pernambucano e o cearense juntaram suas bandas e dividiram uma fatia grande do show de João Gomes no festival Psica, em Belém. Coube toques de jazz e reggae no mundo de possibilidades que se abriu no palco, e o astro da pisadinha amarrou tudo cantando "Chega de Saudade", de João Gilberto.

Pavement (festival C6), maio
Não era muita gente, mas os milhares que estavam na tenda do festival C6 cantaram junto e fizeram de uma banda de garagem, introspectiva, soar épica como se estivesse num estádio. A trupe liderada por Stephen Malkmus parecia se divertir como nunca antes.

BK (Lollapalooza), março
Há anos um dos melhores rappers do Brasil, BK celebrou a carreira com um show que reuniu 20 mil fãs na praça da Apoteose. Todo mundo cantou junto até nas músicas menos conhecidas, numa apresentação que materializou as ruas do Rio de Janeiro.

Daniela Mercury com Ilê Aiyê e Margareth Menezes (Festival Verão), janeiro
Mercury amarrou as pontas do axé ao cantar com a percussão e a beleza negra do Ilê Aiyê para uma plateia acesa no Festival de Verão. A força ancestral dos tambores africanos sempre esteve na base do pop carnavalesco da rainha do axé, mas no palco essa ligação fundamental ficou ainda mais evidente.


Thales de Menezes
Jornalista

Eric Clapton (Allianz Parque), setembro

Aos 79 anos, quase cancelado por discurso negacionista durante a pandemia e sem músicas novas, o guitarrista que os ingleses chamam de Deus fez um show impecável para uma plateia madura em São Paulo. Alguns sucessos são inevitáveis, como "Cocaine" e "Tears in Heaven", mas Clapton teve a audácia de tocar blues originais da década de 1930, diante de um público que não tinha a menor noção disso.

Jão (SuperTurnê)

Com menos de dez anos de carreira, Jão montou uma apresentação em quatro atos, referência clara a seus quatro álbuns que trouxeram algumas pérolas para o pop nacional. Com um leve exagero, ele é quase um novo Lulu Santos no que se refere a escrever canções de amor espertas. Ao vivo, tudo funciona bem, principalmente na recriação de sucessos mais conhecidos como "Me Lambe" e "Alinhamento Milenar".

Linkin Park (Allianz Parque), novembro

O show em São Paulo foi uma prova de fogo para a banda americana, porque foi realizado no dia do lançamento mundial do novo álbum, "From Zero", o primeiro com a vocalista Emily Armstrong. E ela hipnotizou a plateia. Gritou a plenos pulmões durante quase duas horas com uma afinação impecável e teve uma postura agressiva e ao mesmo tempo muito simpática no palco. Canções antigas e recentes conversaram bem.

Ney Matogrosso (Allianz Parque), agosto

O veterano levou a um grande estádio o show "Bloco na Rua", que ele está burilando nos últimos anos, cumprindo uma turnê ininterrupta pelo Brasil. Num repertório dedicado a seus compositores mais queridos, como Chico Buarque, Rita Lee e Itamar Assumpçãoele ganhou o público na arena. E a plateia enfeitiçada recebeu de brinde um encerramento apoteótico com o rock acelerado de "Pro Dia Nascer Feliz".

The Vaccines (Cine Joia), novembro

No início da década passada, essa banda inglesa foi mais uma daquelas apontadas como "a salvação do rock" e deu ao mundo hinos furiosos como "Wreckin’ Bar (Ra Ra Ra)", "If You Wanna", "Teenage Icon" e "Post Break-Up Sex". Seus álbuns recentes não reverberaram tanto, mas o punhado de rocks alucinantes para cerca de mil felizardos em São Paulo foi devastador, com todo mundo cantando junto do começo ao fim.


Leonardo Lichote
Jornalista especializado em música

Caetano Veloso e Maria Bethânia (Farmasi Arena), agosto

Só a celebração dessas duas trajetórias luminosas para a música popular brasileira — e para o Brasil, consequentemente — já justificaria a inclusão do show nesta lista. Mas Caetano e Bethânia foram além, costurando a retrospectiva com mil camadas de leitura, tendo a fé como guia, como atestam as duas maiores surpresas do roteiro: "Fé", de Iza; e o louvor evangélico "Deus cuida de mim", de Kleber Lucas. Esta última gerou reações que confirmaram que o baiano segue sendo um provocador afiado.

Os Garotin (Circo Voador), julho

Uma das maiores revelações da música brasileira dos últimos tempos, o trio lançou seu disco "Os Garotin de São Gonçalo" para um Circo Voador lotado, com uma plateia que cantava alto todas as suas canções. Representantes mais frescos de uma tradição de alegria explosiva de baile preto periférico carioca, eles conversam com Bebeto, Sandra de Sá, Farofa Carioca, Carlos Dafé e toda a cultura charm. Musicalidade exuberante, coreografias divertidas e baldes de carisma.

Lenine e Marcos Suzano (Festival Queremos), abril

Lançado em 1993, o álbum "Olho de Peixe", marco na carreira de Lenine e Marcos Suzano, foi revivido nos palcos pela dupla em 2024. Mais de 30 anos depois de seu lançamento, suas canções sustentam o vigor original. Mas há mais: encorpados pela experiência, os artistas conseguiram imprimir ainda mais força ao repertório. A plateia recebeu o show com uma dose, sim, de nostalgia, mas o sentimento mais marcante que se percebia ali era a excitação frente ao novo que o disco ainda representa.

Living Colour (Sacadura)

A banda americana passou por Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília em 2024, dois anos depois de sua apresentação no Rock In Rio. Não estavam lançando disco, também não havia nenhum projeto especial relacionado à turnê. O show se destaca e garante seu lugar nesta lista pela simples marcação da existência dessa máquina sonora, de groove preciso, peso e contundência política. Músicos atuando no nível da excelência, com um repertório de clássicos de personalidade única — não é pouco.

O Terno, Circo Voador

A turnê de despedida de O Terno foi recebida com comoção e casa cheia por onde passou ao longo do ano. Não foi diferente no Circo Voador. O trio confirmou as expectativas, num show de mais de 2h que passou por seus quatro discos e incluiu uma releitura de "Um Sonhador", de Leandro e Leonardo. O repertório consistente — de rocks frenéticos e baladas épicas, de ironia e sensibilidade — e a musicalidade do grupo encontrou eco perfeito no caldeirão da lona da Lapa.

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