Seguindo o mesmo tom adotado por alguns de seus principais ministros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) rebateu as críticas de parte do mercado financeiro, nesta quinta-feira (5), durante a cerimônia de inauguração da fábrica de celulose da Suzano (SUZB3), em Ribas do Rio Pardo, no Mato Grosso do Sul.
Trata-se de uma das maiores fábricas com linha única de produção de celulose do mundo. Batizada de “Projeto Cerrado” está localizada na BR-262, a cerca de 98 quilômetros da capital do estado, Campo Grande.
A fábrica tem capacidade de produção de 2,55 milhões de toneladas de celulose por ano. O investimento foi de R$ 22,2 bilhões, dos quais R$ 15,9 bilhões destinados à construção da fábrica e outros R$ 6,3 bilhões voltados a iniciativas como a formação da base de plantio e a estrutura logística para escoamento da celulose.
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Em seu discurso, Lula destacou as perspectivas de crescimento de até 3,5% da economia brasileira em 2024 e dados como baixo índice de desemprego no país. O presidente da República reagiu às críticas de parte do mercado após o anúncio das medidas fiscais do governo, na semana passada.
Desde a divulgação das medidas do pacote fiscal e também da isenção do Imposto de Renda (IR) para os contribuintes que recebem até R$ 5 mil, grande parte do mercado financeiro demonstrou frustração e preocupação com o que foi anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Nos últimos dias, o dólar ultrapassou a marca dos R$ 6.
“Eu comecei o ano [de 2023] com o FMI [Fundo Monetário Internacional] comunicando a mim, na cidade de Hiroshima, no Japão, que a economia brasileira cresceria apenas 0,8%. Eu disse à diretora-geral do FMI: ‘minha senhora, a senhora pode conhecer muito do FMI, mas a senhora não conhece o Brasil’”, relatou Lula.
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“O crescimento foi quatro vezes maior do que o FMI previu. Agora, outra vez, algumas pessoas do mercado começaram a anunciar e a alardear que a economia brasileira não cresceria mais que 1,5%. E, para a nossa bela sorte, a economia brasileira vai crescer 3,5% neste ano. E, se tomar cuidado, pode chegar a 4%. É um dos maiores crescimentos de todos os países do mundo”, completou o presidente.
Assim como a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), Lula mencionou uma pesquisa divulgada pela Quaest, na quarta-feira (4), que mostrou uma piora na avaliação do governo entre gestores, economistas, analistas e operadores de fundos de investimento.
A reprovação do presidente subiu de 64% para 90% desde o levantamento anterior, em março, voltando à marca do início do terceiro mandato do petista – quando nove de cada dez profissionais de fundos de investimento também tinham uma avaliação negativa do governo.
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“Ontem saiu uma pesquisa dizendo que 90% do mercado, daqueles que compõem a Faria Lima, são contra o meu governo. Eu já ganhei 10% porque, nas eleições, eles eram 100% contra”, ironizou Lula. “Em 2010 [ao fim de seu segundo mandato], eu entreguei a economia crescendo 7,5% ao ano, a maior geração de emprego da história deste país, e eu vou entregar outra vez”, prometeu o petista.
Segundo Lula, “as pessoas têm o direito de participar do resultado do crescimento” da economia. “É o mínimo que a gente pode fazer. Este país já cresceu 14% na década de 1970 e, quando a gente foi aferir, o povo estava mais pobre. O crescimento tem de ser distribuído”, defendeu.
Mais cedo, Tebet já havia defendido o presidente das críticas do mercado. “Eu não posso acreditar que, em uma terra que se plantando tudo dá, tendo os maiores mananciais de água doce do mundo, com investimentos públicos e privados andando no Brasil, estando com a menor taxa de desemprego da história e a maior taxa de ocupação, tendo tirado 3 milhões de pessoas da extrema pobreza, o tal do mercado avalie em 90% o seu governo como ruim. Isso não é imparcialidade. Isso é jogar contra o país”, afirmou a ministra.
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“E quem joga contra o país quer ajudar a afundar o país. Nós não vamos deixar, graças ao setor privado, ao agronegócio, ao comércio e à indústria”, complementou a ministra do Planejamento, que faz parte da equipe econômica do governo.
O chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT) também criticou a reação negativa do mercado.
“Aqui está a vida real, a economia real. Aqui estão as pessoas: gestores, proprietários, gerentes, trabalhadores da produção. Que, com o seu trabalho e inteligência, ajudam a construir a economia real do Brasil. O presidente Lula se elegeu e escolheu o lema do seu governo: ‘união e reconstrução’. Isso significa dialogar com todos”, disse o ministro.
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“O presidente recebeu um país desarrumado fiscalmente, sem nenhuma responsabilidade fiscal de quem aqui estava. Não é discurso”, prosseguiu Costa. “Em 2022, o governo que aqui estava emprestou R$ 11 bilhões da Caixa Econômica Federal para ajudar condutores de táxi ou de aplicativo, com empréstimos da Caixa. Mais da metade de quem tomou empréstimo sequer tinha carteira de motorista.”
O ministro classificou como “pessimistas” os analistas do mercado que fazem projeções sobre a economia brasileira. “Diziam que cresceríamos 1% no ano passado. Crescemos 3%. Neste ano, esses mesmos pessimistas diziam que o Brasil cresceria 1,5%. O Brasil vai fechar o ano crescendo 3,5%”, afirmou.
“Eu sou um brasileiro de sorte”
Em seu pronunciamento, Lula ainda aproveitou para ironizar aqueles que afirmam que o presidente teve “sorte”, por uma conjunção de fatores externos, em seus governos. “Eu sou realmente um brasileiro de sorte, e de muita sorte”, disse.
“Quando eu fui eleito presidente pela terceira vez, tinha em mente que a gente tinha pegado um país semidestruído. Vocês possivelmente não têm noção do que aconteceu com este país”, continuou Lula, sem citar o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Nós passamos dois anos reconstruindo o país. Vocês não têm noção da quantidade de escolas que nós pegamos paralisadas, a quantidade de casas do Minha Casa Minha Vida que foram paralisadas. Alguém, neste país, inventou que ia criar uma Carteira Verde e Amarela, uma Casa Verde e Amarela, e eu não vi nenhuma casa”, afirmou.
Além de Lula, Tebet e Rui Costa, participaram do evento no Mato Grosso do Sul o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, e o governador do estado, Eduardo Riedel (PSDB).