Moraes retira sigilo de vídeos e áudios da delação de Mauro Cid; veja trechos

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O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes retirou, nesta quinta-feira (20), o sigilo dos vídeos da delação premiada do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid. Os depoimentos, colhidos pela Polícia Federal (PF) no ano passado, embasaram a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro e outros 33 investigados por tentativa de golpe de Estado.

O sigilo da transcrição já havia sido derrubado na quarta-feira (19), mas as gravações ainda não estavam disponíveis ao público.

Com o envio da denúncia ao STF, o material se tornou público. Ao justificar a decisão, Moraes afirmou que não há mais necessidade de manter as informações em sigilo:

“A manutenção geral do excepcional sigilo da colaboração premiada não mais se justifica na preservação do interesse público, pois não é mais necessária, nem para preservar os direitos assegurados ao colaborador, nem para garantir o êxito das investigações.”

Delação aponta Bolsonaro e Braga Netto como articuladores da trama

Nos depoimentos, Mauro Cid citou Bolsonaro e o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto como líderes do esquema, cujo objetivo seria impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e criar um ambiente favorável à intervenção militar.

O ex-ajudante de ordens também confirmou que Bolsonaro pressionou o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, a incluir suspeitas de fraude nas urnas eletrônicas em um relatório oficial das Forças Armadas.

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“O presidente queria que ele [o então ministro da Defesa] escrevesse que tivesse fraude”, afirmou Cid.

Diante da pressão, o documento final sugeriu apenas que o sistema de votação “não era auditável”, o que já foi desmentido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Monitoramento de Moraes

Outro trecho dos vídeos mostra Moraes questionando Cid sobre um suposto monitoramento ordenado por Bolsonaro contra ele:

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“Quando o ex-presidente Jair Bolsonaro pediu o meu monitoramento, vocês fizeram como?”, perguntou Moraes.

“Eu solicitei ao coronel Câmara”, respondeu Cid, referindo-se ao coronel Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro e membro das Forças Especiais do Exército.

Cid afirmou não saber exatamente quem repassava as informações a Câmara, mas apontou que um dos contatos dele seria um juiz do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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Bolsonaro incentivou acampamentos em quartéis

Mauro Cid também declarou que Bolsonaro incentivou deliberadamente a permanência de acampamentos de apoiadores em frente aos quartéis militares pelo País.

Segundo a denúncia da PGR, o ex-presidente estimulou os atos para criar um cenário que justificasse uma possível intervenção militar.

“O então presidente sempre dava esperanças de que algo fosse acontecer para convencer as Forças Armadas a concretizarem o golpe. O colaborador [Mauro Cid] afirma que esse foi um dos motivos pelos quais Bolsonaro não desmobilizou as pessoas que ficavam na frente dos quartéis”, destaca a denúncia.

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Ainda segundo Cid, Braga Netto era o elo entre os acampamentos e Bolsonaro:

“O general Braga Netto era quem mantinha contato entre os manifestantes acampados na frente dos quartéis e o presidente da República.”

Próximos passos do processo

Agora, Bolsonaro e os outros 33 denunciados terão 15 dias para apresentar suas defesas. Após esse prazo, o STF decidirá se aceita a denúncia, o que tornaria os acusados réus e daria início à fase de produção de provas, depoimentos e novos laudos periciais.

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