O ex-presidente do Banco Central nos primeiros governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Henrique Meirelles, afirmou que a desconfiança de setores do mercado financeiro em relação ao presidente não possui viés político, mas decorre de expectativas negativas sobre a economia brasileira.
Em entrevista ao Metrópoles, Meirelles destacou que a principal preocupação dos agentes econômicos é a expansão fiscal promovida pelo governo. Segundo ele, a escalada da inflação e as dúvidas sobre o compromisso do Planalto com o ajuste fiscal intensificam o pessimismo.
“O mercado são milhares de pessoas, não apenas meia dúzia de grandes fundos da Faria Lima. O padeiro do interior da Bahia é mercado”, afirmou. “Ele não é um partido político e não tem posição uniforme. As decisões são tomadas com base no que os agentes acreditam que vai acontecer na economia, independentemente de julgamentos políticos.”
Meirelles elogiou os esforços do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas criticou a “resistência” que ele enfrenta dentro do governo. Segundo o ex-ministro, a tentativa de cobrir o aumento de gastos com a alta de impostos não é sustentável.
“O Brasil já possui uma das cargas tributárias mais altas do mundo. O caminho terá de ser, necessariamente, uma limitação de despesas”, disse.
O ex-presidente do BC também defendeu a atuação de Gabriel Galípolo no comando da autoridade monetária. Para ele, o banco tem agido corretamente no combate à inflação, apesar das críticas do PT sobre a taxa Selic, atualmente em 13,25% ao ano.
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“O Banco Central sempre trabalha sob pressão. O presidente da instituição tem de estar preparado para isso”, afirmou Meirelles.