Desde maio passado, Klein e os professores João Pedro Freitas Gomes e Guilherme Arthen estão estudando o assunto. Eles cruzaram dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua com informações da Declaração do Imposto de Renda de Pessoa Física e dados de arrecadação da Receita Federal. Os professores consideraram isenção para quem ganha até R$ 5 mil por mês e taxação de 10% para quem ganha mais de R$ 600 mil por ano, condições propostas pelo governo. Os cálculos estimam que há cerca de 575 mil pessoas no Brasil na faixa de renda mais alta e têm como premissa que quem ganha acima de R$ 7.500 ao mês terá isenção limitada a dois salários mínimos.
Entretanto, para os pesquisadores, o governo deveria aplicar taxas mais altas para quem ganha acima de R$ 600 mil ao ano. Se a alíquota mínima fosse de 15%, seriam arrecadados R$ 87 bilhões a mais anualmente.
Para nós, o ideal seria essa alíquota maior, mas o mundo da política é diferente.
Guilherme Klein, professor na Universidade de Leeds e pesquisador associado do Made-FEA/USP
Nas contas do governo, os números são diferentes. O impacto fiscal da isenção será de R$ 35 bilhões, segundo informou Haddad nesta quinta (28), durante apresentação de detalhes das medidas anunciadas na véspera. A arrecadação extra com a taxação dos ricos teria valor semelhante e neutralizaria esse valor. "A diferença entre os números do pacote e os nossos é que o governo tem acesso a fontes de informação na Receita Federal às quais nós não temos", explica Klein.
Projeção de arredação menor
Sempre é possível ter falhas nas projeções de arrecadação, diz Klein. A possibilidade de falhas estaria em brechas que evitassem a tributação dos mais ricos. Para ele, o governo acertou em colocar a nova tributação em cima de salários, lucros e ganhos com dividendos e JCP (juros sobre capital próprio). "É uma maneira de evitar evasão fiscal", afirma.