O novo chefe do maior banco da Argentina está iniciando uma reformulação no estilo Javier Milei da instituição e planejando seu retorno aos mercados de capitais internacionais pela primeira vez em 30 anos.
Daniel Tillard foi nomeado por Milei em dezembro de 2023 para transformar o Banco de la Nación, a instituição estatal que possui duas vezes e meia os ativos de seu principal concorrente local: o Banco Galicia.
Em primeiro ano de gestão, Tillard já cortou 1.000 empregos, ou 6% da força de trabalho total do banco, como parte da redução de gastos mais ampla de Milei.
Ao mesmo tempo, a equipe de Tillard está revisando uma série de empréstimos considerados ruins e o executivo avalia adotar um modelo de banco público-privado como o Banco do Brasil, no qual o governo federal detém metade da instituição.
Esses são todos passos em direção a um retorno aos mercados —e um microcosmo da própria tentativa da Argentina de atrair investimento internacional após uma reestruturação da dívida soberana em 2020.
"Vamos fazer o que for possível nas circunstâncias. Primeiro, uma emissão de dívida no mercado de capitais local; e depois, uma internacional", disse Tillard, 67, recusando-se a detalhar quando ou quanto de dívida ele pretende vender ou a que taxa de juros. "Nossa aspiração é imitar o modelo do Banco do Brasil."
Tillard e Milei tiveram que diminuir algumas metas anunciadas no início deste ano, quando legisladores da oposição forçaram a administração a remover o Banco de la Nación de uma lista de empresas estatais que seriam privatizadas e estão em um pacote maior de reformas. Agora, o governo não fala mais explicitamente de privatização, capital privado ou uma oferta pública inicial, mas de buscar financiamento por meio de emissão de dívida.
No entanto, o banco ainda é uma importante peça no projeto de Milei. O ministro da Economia, Luis Caputo, anunciou na terça-feira (8) que o governo estava fechando agências do Banco de la Nación em cidades que impuseram impostos "injustificados", acrescentando que Tillard executaria a ordem.
O Banco de la Nación emitiu títulos nos mercados internacionais pela última vez no início de 1993. A emissão foi de US$ 150 milhões por três anos com um cupom de 9% ao ano.
Fundado em 1891, o banco faz parte da identidade volátil da Argentina: sua sede fica bem em frente ao palácio presidencial em Buenos Aires —uma ode às ambições do país há um século.
A solvência do banco estatal tem sido tema recorrente ao longo de seus 133 anos pela má gestão de governos militares, populistas e conservadores. O golpe mais recente sofrido pela instituição foi aplicado pela empresa agrícola Vicentin, que deu calote em mais de US$ 300 milhões em dívidas com o banco em 2019.
Tillard se orgulha de ter implementado uma transformação semelhante em seus oito anos como presidente do BanCor, o banco estatal da província de Córdoba. Sob sua liderança, o BanCor reduziu seu número de funcionários de 2.700 para 2.000 e triplicou o número de contas de poupança, de acordo com dados do banco central. O retorno sobre ativos aumentou de 1,9% para 2,7% no período.
O Banco de la Nación investe metade do que seus concorrentes em desenvolvimento tecnológico, e Tillard quer que ele esteja melhor preparado, já que a concessão de crédito está crescendo a um ritmo de dois dígitos. Os bancos argentinos começaram a oferecer hipotecas residenciais nos últimos meses pela primeira vez em seis anos.
"Precisamos ir ao mercado de capitais para obter financiamento adicional para aprofundar nossa concessão de crédito (e fechar a lacuna tecnológica com os concorrentes)", disse Tillard.
Tillard afirmou que a esperança de uma IPO (oferta pública de ações) não está descartada. "É viável fazê-lo, mas depende da aprovação do Congresso. Se precisar ser feito, será feito em algum momento", destacou.
Folha Mercado
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Ele contratou o escritório de advocacia argentino Liendo & Asociados há sete meses para reformular o banco estatal e convertê-lo em uma sociedade limitada, um tipo de organização que limita a responsabilidade dos acionistas ao capital que contribuíram. O novo projeto busca modificar o estatuto da empresa, melhorar as deficiências da organização e evitar erros nos empréstimos que concede, entre outras coisas.
Ainda assim, o objetivo final de Tillard parece ser semelhante ao de seu homólogo brasileiro. O Banco do Brasil é uma corporação de capital privado, de capital aberto, controlada pelo governo federal, que detém aproximadamente 50% das ações. É o segundo maior banco da América Latina, com 3.980 agências no Brasil e quase 20 subsidiárias em 15 países.
"Se você vê que algo é bem-sucedido, tenta imitá-lo", disse Tillard.