Líderes de transporte e logística combatem estereótipos e investem em comando feminino

há 3 semanas 2

Diversidade ainda é assunto tímido no setor de transporte e logística. Mulheres respondiam por apenas 18,19% da força de trabalho da área no ano passado, segundo dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) de 2023, os mais recentes disponíveis. Já pessoas não brancas ocupavam 43,71% das vagas trabalhistas; mais de 80% dessa fatia era representada por pardos.

As melhores colocadas na categoria Transporte, Logística e Serviços do levantamento Diversidade nas Empresas tentam mudar essa realidade. A Ferrovia Norte-Sul, a Ferrovia Centro-Atlântica e a Mills, se destacam por maior participação de mulheres, além de pretos, pardos e indígenas, em relação a outras da área.

O estudo foi feito pelo Centro de Estudos em Finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas) em parceria com a Folha. Os pesquisadores utilizaram dados de 2023 de empresas de capital aberto declarados à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

A pesquisa avalia de forma separada companhias de 100 a 5.000 funcionários, como a Ferrovia Norte-Sul e a Mills, e a partir de 5.000, tal qual a Ferrovia Centro-Atlântica. No total, um universo de 418 empresas foi levado em consideração. A diversidade foi mensurada em cargos de média liderança, diretoria e conselhos de administração e fiscal.

A Ferrovia Norte-Sul liga o sistema de trilhos do país de um extremo ao outro, e a Ferrovia Centro-Atlântica, que cobre a região Sudeste e parte dos estados de Goiás e da Bahia, é uma das maiores do Brasil. As duas operações são controladas pela VLI, holding da Vale que aplica as mesmas políticas de diversidade e inclusão a ambos os negócios.

De acordo com Rute Melo Araújo, diretora-executiva de gente, inovação e sustentabilidade da VLI, a companhia quer que 30% dos cargos de alta liderança das ferrovias sejam ocupados por mulheres até 2025. A meta faz parte do programa Equidade é Prioridade da ONU, com o qual a holding firmou compromisso em 2020.

É fundamental termos diversidade em todos os níveis da companhia. Ampliar a pluralidade nos cargos de liderança é o caminho para a inovação e o único caminho possível para assegurarmos uma cultura de diversidade

"Atuamos em um setor que historicamente é, em sua maioria, ocupado por homens. Mas optamos por desconstruir essa crença de que a logística não era um segmento adequado para mulheres", afirma.

Araújo cita como iniciativas que já produziram resultados os programas de mentoria e aceleração de carreiras voltados às profissionais. Juntos, eles ajudaram a ampliar o percentual feminino em cargos de gerência. Segundo a VLI, 18,54% de seu quadro de funcionários hoje é formado por mulheres, e o crescimento nesse recorte foi de 53% entre 2022 e 2023.

Já a Mills, que aluga equipamentos para o setor, trabalha com recrutamentos afirmativos, grupos de afinidade e rodas permanentes de conversa para promover debates e estimular um ambiente de trabalho de respeito. A empresa também investiu em treinamentos para as lideranças estabelecerem rotinas e gestões inclusivas.

Além de criar uma cartilha de diversidade para os funcionários, a companhia mantém um programa permanente de bolsas de estudo para pessoas com renda familiar de até três salários mínimos. Hoje, mulheres representam metade do quadro de estagiários técnicos.

Para Kleber Racy, diretor de pessoas e ESG (sigla para boas práticas ambientais, sociais e de governança) da companhia, a presença no levantamento é fruto da combinação dessas iniciativas.

"Ter mais pluralidade nos times nos ajuda a inovar, solucionar problemas e atrair talentos", diz Racy. "A gente observa inúmeros benefícios positivos, que vêm sustentando o crescimento econômico da empresa."

Promover a diversidade nesse setor é essencial para ajudar a reduzir as desigualdades e enfrentar desafios estruturais. Nossas atividades sempre foram tradicionalmente dominadas por homens, por isso a inclusão estruturada de mulheres e outras minorias pode quebrar estereótipos, além de trazer olhares diferentes sobre os processos e as operações

A despeito dos esforços, o quadro geral da indústria ainda é dominado por trabalhadores do gênero masculino e da cor branca. O relatório da Rais de 2023 aponta que, nas empresas de transporte terrestre —que incluem ferrovias e rodovias—, apenas 15,03% da força de trabalho é composta por mulheres. Já pessoas pretas e indígenas representam 6,73% do total, enquanto pardos totalizam 35,74% do quadro.

Para Ismael dos Anjos, consultor sobre diversidade do Instituto de Defesa da População Negra, os resultados do estudo FGV/Folha refletem um padrão do mercado brasileiro como um todo. Ele avalia que há uma participação cada vez maior e significativa de mulheres nas lideranças, mas o envolvimento de negros e indígenas segue tímido nessas hierarquias.

"Uma maneira de equilibrar esse quadro é criar mecanismos de aprimoramento dos profissionais que já fazem parte dessas organizações", diz. "Quando se trata de atração e retenção de talentos, é preciso pensar também em ações afirmativas, que equilibrem esse contingente subalternizado e sub-representado nas posições de liderança."

Folha Mercado

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As notas de participação feminina e de pretos, pardos e indígenas, que vão de 0 a 100, foram calculadas levando em consideração a presença dos grupos em cargos de alta e média liderança. Os autores do estudo deram pesos diferentes para cada uma das categorias analisadas: enquanto diretoria e conselho de administração têm peso maior, uma vez que os membros têm maior poder decisório, a média liderança e o conselho fiscal têm peso menor.

  • Empresas de 100 a 4.999 funcionários

MILLS
Fundação
1952
Funcionários 2.000
Participação de pretos, pardos e indígenas 14,02
Participação feminina 32,86
Também levou na categoria Sudeste

FERROVIA NORTE-SUL
Início da concessão à holding
VLI 2007
Funcionários não informado
Participação de pretos, pardos e indígenas 15,69
Participação feminina 32,86
Também levou na categoria Conselho de Administração

  • Empresa com 5.000 funcionários ou mais

FERROVIA CENTRO-ATLÂNTICA
Início da concessão à holding VLI
1996
Funcionários não informado
Participação de pretos, pardos e indígenas 12,98
Participação feminina 27,89
Também levou na categoria Sudeste

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