"Diário da Cadeia" é uma ficção especulativa escrita por Ricardo Lísias que tem um Eduardo Cunha fictício relatando seu dia a dia na cadeia.
Encarcerado pela Operação Lava Jato, o personagem inspirado no ex-deputado que ficou preso de 2017 a 2020 relata suas reflexões sobre a situação política brasileira da época, a investigação contra ele, a morte de PC Farias e sua fé religiosa.
O falso diário foi publicado em 2017 e desde então o ex-presidente da Câmara dos Deputados tenta retirá-lo de circulação. Em 2020, desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro alegaram não poder censurar a obra por se tratar de uma criação artística.
Mas nesta quinta o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, voltou atrás na decisão e mandou que todos os exemplares sejam recolhidos pela editora Record. O magistrado determina que a obra não seja mais publicada com a assinatura "Eduardo Cunha (pseudônimo)", dizendo que ela induz leitores ao erro.
Preso em um ambiente que ele descreve como pequeno, o Cunha de Lísias desenvolve paranoias —ele acredita estar sendo constantemente vigiado e vê a Operação Lava Jato como um plano para prejudicar a classe política e trabalhadora do Brasil.
No livro, ele arquiteta a publicação de seu manuscrito e reafirma constantemente sua crença na própria superioridade moral.
Confira abaixo trechos do livro em que Lísias, cujo nome nunca é mencionado na edição, dá vida a Eduardo Cunha:
"Jesus também passou pelo que estou passando e depois deu a volta por cima para cuidar do ser humano. O que está sendo posto em cheque [sic] agora, nessa nação abençoada por Deus, é o meu equilíbrio. Mas é ingênuo colocar em cheque [sic] o que eu sempre tive de melhor",
"EU SEI QUEM MATOU O PC FARIAS."
A frase é repetida em caixa alta diversas vezes ao longo do diário, e o Cunha fictício afirma constantemente ter uma resposta que nunca revela.
"O PT tomou conta da cabeça de todos. É mais fácil tirar os do PT do governo do que da cabeça de todo mundo. Ninguém é melhor do que Deus, eu também avisei."
"Então é esse também um dos objetivos dessa Lava Jato: impedir a gente de pagar pelos serviços dos outros, para precarizar ainda mais a situação do trabalhador brasileiro. Começam conosco: o político não pode receber pelo seu trabalho junto as empresas, estão querendo concluir agora com ajuda da justiça. Depois, como estou vendo, vão estender para todos os trabalhadores. Tenho a impressão de que um dos objetivos dessa operação que está me hospedando aqui é acabar com o pagamento de hora-extra no Brasil. Vou tentar comunicar isso ao povo no meu livro."
"Aqui não teremos nenhum tipo de comemoração de natal. Vai ser um dia normal, ele disse. Eu não esperava outra coisa. Desisti da minha ideia de abrir uma igreja aqui, ao menos por enquanto. As pessoas não conversam direito, sobretudo os de serviço. Com os outros, não tenho muito contato também, e nem sei se quero. Vou ficar sozinho com Deus mesmo."
"O Cabral é outro que está sendo humilhado. Veio para cá, não passou quase nem um dia e já teve que voltar de novo. Tudo para produzirem algumas notícias de jornal, já que são cúmplices. Mas todo mundo sabe que o comunismo, quando chega no poder, age assim mesmo: humilha os mais bem sucedidos."