Alta dos juros inibe consumo e afeta a produção nacional. A taxa Selic é o principal instrumento de política monetária para segurar a inflação. O efeito cascata tem origem no menor interesse por financiamentos e crediários devido aos juros mais altos, o que resulta na menor produção e, consequentemente, no controle dos preços. Para Gabriel, não há espaço para uma eventual queda dos juros no curto prazo, mesmo com as mudanças na diretoria do BC a partir de janeiro. "A tendência é o crescimento do PIB desacelerar", afirma ele.
Setores sensíveis ao crédito tendem a ser mais atingidos. Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, afirma que qualquer elevação da taxa Selic acima de 0,5 ponto percentual afeta diretamente a construção civil e as atividades imobiliárias, ramos que enfrentam maiores custos de financiamento e têm a demanda mais retraída. "Esses fatores podem levar a uma menor participação desses segmentos no desempenho econômico geral", afirma.
Mercado financeiro projeta mais quatro altas da taxa Selic. As elevações, todas de 0,5 ponto percentual, são previstas para as próximas quatro reuniões do Copom. Caso a movimentação seja confirmada, os juros básicos da economia nacional alcançarão 13,25% ao ano em maio de 2025, o maior patamar desde setembro de 2023. "A política monetária mais contracionista deverá restringir o ritmo de expansão das concessões de crédito e dos investimentos", prevê a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda ao destacar o crescimento "robusto" do PIB.
Economista cobra "caminho alternativo" para elevação do PIB. "É importante que as políticas monetárias, hoje amparadas nas elevadas taxas de juros, não sufoquem a trajetória de crescimento", afirma Ana Cláudia Arruda, conselheira federal do Cofecon (Conselho Federal de Economia).Para ela, é necessário que a política monetária contorcionista seja revista e revertida "o mais breve possível".
Preocupações refletem atividade econômica "superaquecida". Na avaliação de Rodrigo Romero, economista da Levante Asset, o PIB do terceiro trimestre reforça a percepção de que a economia brasileira cresce acima de seu potencial. "Esse cenário aumenta as pressões sobre a condução da política monetária como forma de mitigar os efeitos potencialmente inflacionários dessa dinâmica", observa. "O maior desafio hoje é não deixar a economia brasileira aquecer demais", reforça Arruda.
Inflação acumulada até outubro já superou o teto da meta. Nos 12 meses finalizados em outubro, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) registra alta acumulada de 4,76%, nível 0,26 ponto percentual acima do limite definido pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) para este ano. Com as variações de 0,27% e de 0,52% previstas para os últimos dois meses deste ano, a inflação tende a encerrar 2024 em 4,71%.