Às vésperas de completar metade de seu terceiro mandato no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode ter de começar a tão aguardada reforma ministerial trocando o comando do Ministério da Defesa.
Segundo informações da colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, o ministro José Múcio Monteiro, amigo pessoal do presidente, já teria comunicado a Lula que não tem intenção de continuar no cargo.
De acordo com o jornal, Múcio e Lula devem ter uma conversa definitiva sobre o assunto nos próximos dias. O ministro da Defesa teria concluído que “cumpriu sua missão” à frente da pasta e estaria disposto a deixar o primeiro escalão do governo.
Lula e Múcio se reuniram, na última terça-feira (17), na residência do presidente da República em São Paulo (SP), para discutir as mudanças nas aposentadorias dos militares, previstas no pacote fiscal apresentado pelo governo e que está sendo discutido no Congresso Nacional.
A eventual saída de José Múcio do Ministério da Defesa não é considerada uma tarefa simples por Lula, dada a boa relação que o chefe da pasta mantém com todo o alto comando das Forças Armadas.
A instituição vive um momento turbulento em meio às investigações da Polícia Federal (PF) sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). No último fim de semana, o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil de Bolsonaro, foi preso.
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Alckmin seria possível sucessor
Ainda segundo a Folha de S.Paulo, caso a saída de José Múcio se confirme, o nome mais cotado para assumir o Ministério da Defesa é o do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que hoje também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Alckmin conta com a plena confiança de Lula e, segundo interlocutores do presidente, também tem boa relação com as Forças Armadas.
Se tiver de ser deslocado para a Defesa, Alckmin abriria um espaço que poderia vir a ser ocupado pelo atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), no MDIC. Pacheco, cujo mandato na presidência do Senado termina em fevereiro do ano que vem, nega a intenção de migrar para o primeiro escalão do governo.
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Reforma ministerial
Como o InfoMoney mostrou em reportagem publicada em novembro, nos corredores do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional a dúvida não é mais se haverá mudanças no primeiro escalão da Esplanada dos Ministérios, mas quando elas ocorrerão e qual será sua magnitude – se a reforma será mais “cosmética” e pontual ou se o presidente optará por modificações mais abrangentes.
A tendência é a de que Lula espere as eleições para as Mesas Diretoras na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, no início de fevereiro de 2025, para bater o martelo sobre o novo desenho de seu governo – embora o mundo político veja espaço cada vez mais reduzido para surpresas nessas disputas.
Uma das principais variáveis que devem ser levadas em consideração por Lula é a necessidade de uma maior representação dos partidos do chamado “centrão”, especialmente os vitoriosos nas eleições municipais deste ano. A partir de janeiro, o PSD, comandado pelo ex-prefeito de São Paulo (SP) e ex-ministro Gilberto Kassab, administrará 887 prefeituras em todo o País. Na sequência, vêm MDB e PP, respectivamente com 856 e 747 municípios sob sua administração. Com os resultados do último pleito, 3.506 das 5.569 cidades brasileiras serão governadas por PSD, MDB, PP, União Brasil ou Republicanos, os principais representantes do “centrão”.
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Atualmente, PSD, MDB e União Brasil ocupam três ministérios cada um, enquanto PP e Republicanos têm uma pasta sob seu comando. O PSD conta com os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia), Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária) e André de Paula (Pesca e Aquicultura); o MDB é representado por Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), Jader Filho (Cidades) e Renan Filho (Transportes); o União Brasil tem Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional), Celso Sabino (Turismo) e Juscelino Filho (Comunicações).
Em setembro do ano passado, Lula incluiu PP e Republicanos em seu primeiro escalão, entregando o Ministério do Esporte a André Fufuca (PP-MA) e a pasta de Portos e Aeroportos a Silvio Costa Filho (Republicanos-PE). O governo Lula tem 39 ministérios.
Outro desafio importante que se avizinha para o governo é a possível resistência do PT a ceder aos partidos do “centrão” espaços estratégicos ocupados atualmente pela legenda. Em 2022, Lula se elegeu sob o lema da “frente ampla” contra o então presidente Jair Bolsonaro, unindo lideranças políticas da esquerda ao centro, até mesmo da centro-direita.
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Apesar de contar com ampla representatividade partidária no primeiro escalão, Lula reservou ao PT e aliados alguns dos ministérios mais cobiçados da Esplanada. Hoje, a legenda comanda as pastas da Fazenda (Fernando Haddad), Casa Civil (Rui Costa), Educação (Camilo Santana), Relações Institucionais (Alexandre Padilha), Trabalho e Emprego (Luiz Marinho), Desenvolvimento Agrário (Paulo Teixeira), Desenvolvimento Social (Wellington Dias), Secretaria-Geral da Presidência (Márcio Macêdo), Mulheres (Cida Gonçalves) e Direitos Humanos e Cidadania (Macaé Evaristo). São dez dos 39 ministérios, praticamente 25% do governo.