Embora o IPCA-15, a prévia da inflação oficial do país, tenha desacelerado de 0,62% em novembro para 0,34% em dezembro – dado também mais baixo que as projeções de analistas -, permaneceu no mês a percepção de que vários indicadores importantes estão bem acima da meta perseguida pelo Banco Central. Analistas destacam a contínua pressão exercida pela alta dos alimentos e um avanço nos serviços essenciais.
A XP destaca em relatório que o dado mensal ficou abaixo de sua projeção (0,47%) e do consenso da Bloomberg (0,46%), especialmente por conta do menor reajuste das tarifas aéreas no período. Esses preços avançaram 4,4% ante o mês anterior, quando o esperado era um reajuste de 20%. Não fosse por esse desvio, o IPCA-15 geral teria ficado em 0,46%.
Outros pontos citados foram a ativação da ‘bandeira verde’ nas tarifas de eletricidade (responsável pela variação -5,7% menor em relação ao mês anterior) e descontos da Black Friday no período. Por outro lado, houve um aumento de 13% nos preços dos cigarros.
Enquanto isso, os serviços essenciais avançaram 0,71% em dezembro relação ao mês anterior, bem acima da expectativa da XP (0,48%). Com isso, núcleo de serviços pela média móvel trimestral anualizada disparou de 5,5% para 8,0%.
“A principal contribuição positiva para nossa estimativa veio de ‘alimentos fora de casa’ (1,2% contra 0,8%), refletindo ainda a recente aceleração nos preços dos alimentos”, comenta a XP em sua análise.
“De modo geral, os dados sobre serviços reforçam nossa visão de uma deterioração nos próximos meses, em decorrência da sólida demanda interna, do mercado de trabalho apertado e das expectativas de inflação desalinhadas”, projeta.
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Para a XP, o IPCA-15 de dezembro não muda a opinião de que a perspectiva inflacionária é bastante desafiadora, umas vez que todos os principais indicadores estão bem acima da meta de 3,0%.
O dado divulgado hoje pelo IBGE reduziu a estimativa do IPCA fechado, que estava em 0,68% e foi a 0,56%. “No entanto, o número não representa nossa revisão final ou sua direção. Para 2025, nossa previsão de 5,2% está inclinada para cima, refletindo a depreciação da taxa de câmbio brasileira”, alerta.
Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, o principal fator de pressão para o resultado do IPCA-15 de dezembro foi a alta de 1,56% no grupo alimentação no domicílio, com destaque para os aumentos de preços do óleo de soja (9,2%) e das carnes (7,9%).
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“O fato de o resultado de dezembro ter ficado abaixo do esperado pode ser explicado, basicamente, pela inflação das passagens aéreas, que subiu 4,4%, ante nossa projeção de alta de 22,5%”, explica a economista.
Ela também destaca que, apesar de o IPCA-15 de dezembro ter ficado abaixo da previsão, a composição do indicador veio pior do que o esperado. “A inflação de serviços subjacentes, por exemplo, subiu 0,71% em dezembro, acumulando uma alta de 5,7% no ano, patamar bastante elevado.”
O C6 Bank não vê uma desaceleração da inflação de serviços à frente, que deve continuar pressionada pelo mercado de trabalho aquecido. “Nossa projeção é de que o IPCA de 2025 acelere para 5,3% devido à perspectiva de desvalorização do real”, afirma Claudia.
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Para a economista, os dados divulgados hoje reforçam a visão de que a Selic chegará a 15% em junho de 2025, patamar que deve ser mantido até o final de 2026. “Não descartamos uma elevação dos juros ainda maior. Na nossa visão, a recente depreciação do câmbio e a contínua elevação das expectativas de inflação podem resultar em um aperto monetário mais forte”, justifica.
O Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Daycoval também destaca no mês a forte elevação dos preços dos alimentos – pela alta expressiva dos preços de carnes vermelhas – e o alívio no preço da energia elétrica.
“Este IPCA-15, embora menor do que o esperado, segue com pressão altista dos alimentos e composição ruim dos serviços, principalmente os serviços subjacentes. Este quadro reforça a expectativa de trajetória de juros mais restritiva por parte do BC. O alívio em energia pela alteração de bandeira não muda o cenário”, diz a análise do banco.
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Para o Itaú, apesar da surpresa do menor aumento das passagens aéreas, o resultado qualitativo do IPCA-15 continuou a piorar na margem, “com aceleração nos serviços subjacentes, refletindo aumentos superiores ao esperado em alimentos fora de casa e ingressos de cinema, além dos grupos mais intimamente ligados à atividade econômica que continuaram em um nível elevado.”
Na avaliação Igor Cadilhac, economista do PicPay, embora o resultado tenha surpreendido para baixo, os núcleos vieram relativamente pressionados, reforçando sinais claros de deterioração nas leituras mais recentes.
Ele destaca que dos nove grupos pesquisados, cinco registraram alta e que Alimentação e Bebidas (1,47%), Despesas Pessoais (1,36%) e Transportes (0,46%) foram os que mais influenciaram o resultado.
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No grupo Alimentação, o maior impacto veio das carnes, enquanto em Despesas Pessoais, a alta foi impulsionada pelo aumento no preço do cigarro (12,78%), reflexo do reajuste da alíquota específica do IPI aplicado a partir de novembro.
“Já em Transportes, o destaque foi para as passagens aéreas, que subiram 4,43%. Além disso, após as gratuidades nas passagens concedidas durante o segundo turno das eleições municipais, diversos subitens relacionados à mobilidade também registraram alta”, explica.
Por outro lado, lembra Cadilhac, o grupo Habitação apresentou o maior impacto negativo no índice geral, com uma queda de 1,32% e contribuição de -0,20 pontos percentuais. A energia elétrica residencial foi o principal fator de recuo, com redução de 5,72%, reflexo do retorno da bandeira tarifária verde em dezembro.
A projeção do PIcPay para a inflação em 2025 é de 5,2%, ou seja, estourando o teto da meta. “As expectativas para a inflação futura continuam sendo um dos principais desafios. Diante disso, do ponto de vista da política monetária, o Copom deve manter o ritmo e optar por uma alta de 1 ponto percentual na Selic nas próximas reuniões.”