Inflação x crescimento: o que empresários pensam sobre uma possível alta da Selic

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Uma possível elevação dos juros básicos da economia nesta quarta-feira (18) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) deve adiar a tão sonhada Selic de um dígito, principalmente por consumidores e por empresários.

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Nas companhias, de maneira geral, a taxa em patamares elevados tende a encarecer as despesas financeiras, o que acaba inibindo investimentos. Na prática, é mais difícil crescer com juros tão altos. Fora isso, há chances das receitas também serem impactadas por uma redução do consumo, em função do crédito mais caro.

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Não existe um posicionamento único das entidades empresariais sobre a postura do Banco Central. Nas duas últimas reuniões, em que o Copom interrompeu o ciclo de alívio e manteve a Selic em 10,5%, alguns grupos deram respaldo às decisões, citando incertezas do cenário fiscal e pressões inflacionárias. Outros disseram que os juros no atual patamar restringem a atividade econômica brasileira.

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Passado de preços nas alturas

Antonio Carlos Nasraui, CEO do Rei do Mate, entende que a inflação não pode sair do controle. Afinal, a tradicional rede de cafeterias enfrentou, logo no início de suas atividades, o cenário de hiperinflação que assolou o Brasil por muitos anos. Atualmente, o negócio está exposto a duas commodities que dispararam no mercado internacional este ano – café e cacau – e que, observa Nasraui, nada têm a ver com as incertezas fiscais do Brasil.

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“Nem a Selic dobrando vai segurar o preço do café e do chocolate”, afirmou ao InfoMoney.

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Nasraui admite que juros mais altos impactam o consumo, mas, no caso do Rei do Mate, não tanto a ponto de vir a ser uma grande preocupação para a empresa. Em termos de saúde financeira, o empresário diz que a rede também está preparada.

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“Temos zero alavancagem financeira. Isso vem já dá época do meu pai”, afirma, fazendo referência a Kalil Antonio Nasraui, fundador da empresa. O empresário reconhece que esta é uma situação privilegiada, principalmente após o período de pandemia que reduziu as receitas dos negócios a zero. Concorrente do Rei do Mate, a Casa do Pão de Queijo não teve a mesma sorte e, endividada, entrou em recuperação judicial há poucos meses.

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Impacto em expansão

O efeito de juros ainda mais altos poderá ser sentido na abertura de novas franquias. Um dos critérios do Rei do Mate é aceitar apenas franqueados com capacidade financeira própria para abrir uma loja, sem necessitar de financiamento bancário. Porém, com a Selic elevada, esse modelo de negócio compete diretamente com a renda fixa.

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“Acredito que vai ter gente pensando se é mais vantajoso montar uma franquia ou colocar o dinheiro no banco para render”, reconhece Nasraui. “É possível que afete o nosso crescimento lá na frente, não por nós, mas pelos nossos parceiros”.

Antonio Carlos Nasraui, CEO do Rei do Mate e filho do fundador da empresa (Foto: Divulgação | Keiny Andrade)

O Rei do Mate faturou R$ 320 milhões em 2023, tem mais de 300 lojas em seu portfólio e continua abrindo novas unidades. Porém, o aperto monetário prolongado tende a impactar a estratégia da empresa em abrir lojas em chamados pontos alternativos – dentro de empresas, indústrias, faculdades, hospitais e supermercados.

“Esse empresário do mercado, repensando ou postergando o crescimento, nos atrapalha”, afirma o CEO.

Investimentos mais caros

Em um outro setor, Antonio Wrobleski, presidente da BBM Logística, diz que caso as previsões de retomada de aperto se concretizem, a Selic sobe em “uma hora ingrata”. “Já não é um período em que o empresário investe forte, porque ele quer colher frutos [do que já investiu] justamente no último trimestre do ano. É um período em que ele analisa e se prepara para o ano seguinte e um aumento de juros, nesse momento, pode fazer a gente voltar ao famoso voo de galinha”, afirma.

Wrobleski destaca ao menos dois investimentos que são essenciais no segmento de transporte e logística, mas que tem sido afetados pelos juros altos. Primeiro, a parte de aquisições de equipamentos e renovação de frota, cujo custo de financiamento está em níveis elevados e fica ainda mais caro com a Selic voltando a subir. O aperto monetário também pode impactar investimentos em digitalização, que têm o intuito de controlar custos, mas são intensivos em capital.

“São investimentos altos, com retornos longos. O empresário faz uma vez e precisa dar continuidade a ele por, pelo menos, cinco anos”, explica Wrobleski. A própria BBM Logística passa por um processo de digitalização iniciado há quatro anos e tem investido em tecnologias como a inteligência artificial que, observa o executivo, demora “de cinco a seis anos” para começar a dar retorno.

Antonio Wrobleski, presidente da BBM Logística (Crédito: Divulgação)

De qualquer forma, Wrobleski diz ter “absoluta convicção” de que uma alta de juros agora seria pontual e não um norte para os próximos anos. “Acho que, em 2025, a gente deve voltar a uma certa normalidade. Algumas coisas que estão querendo ser provadas pelo governo, elas já estarão provadas”, afirma o CEO.

“Não faz sentido um país com crescimento de 3,5% e 4% de inflação ter uma taxa de juros que é o dobro disso. Aí seria querer trazer estagnação para o país”, finaliza.

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