Ilum forma sua primeira turma de cientistas e comemora baixa evasão

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Uma visita à Ilum Escola de Ciência, em Campinas, a 90 km da cidade de São Paulo, dá a sensação de que se está diante de uma potencial fábrica de futuros ganhadores de Prêmio Nobel. A unidade forma neste ano a sua primeira turma com bacharelado em ciência e tecnologia.

Um dos sucessos do projeto, idealizado pelo físico Rogério Cézar de Cerqueira Leite em 2016 e com atividades iniciadas em 2022, é a baixa evasão. Esse é um dos problemas que afetam muitos dos bacharelados tradicionais nas mais diversas áreas científicas, sobretudo as de exatas.

"Nossa retenção é ótima. Começamos com uma turma de 40 alunos, 35 estão se formando neste ano e dois estão atrasados", diz Adalberto Fazzio, diretor da escola ligada ao CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), organização social do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação). Com esses números, a evasão seria inferior a 10%. Na maioria dos cursos universitários de exatas ela é bem maior. Na USP, o recordista em um levantamento feito em 2023 foi o bacharelado em matemática aplicada e computacional: 54%.

"E muitos dos nossos alunos já saem daqui direto para o doutorado", diz Fazzio. "É coisa certa, basta ver com que idade a maioria dos ganhadores do Prêmio Nobel faz suas grandes contribuições."

De fato, muitos dos agraciados —o Brasil ainda não tem um—, sobretudo na área de física, tiveram seus maiores resultados na faixa etária dos 25 aos 35 anos –época em que os pesquisadores costumam estar na pós-graduação. Um estudo de 2019 que analisou a premiação desde 1995 sugere que a média, em todas as categorias, é de 44,1 anos (mais ou menos 9,7).

A ideia da Ilum é colocar seus alunos o mais depressa possível na trajetória da inovação, com um programa educacional que enfatiza dois elementos: interdisciplinaridade e contato precoce com atividades de pesquisa.

Para isso, os alunos fazem uso de laboratórios muito equipados, disponíveis aos alunos para projetos escolares e pessoais, além de uma interface com o próprio CNPEM, com atividades de pesquisa realizadas no Sirius, o acelerador de partículas e fonte de luz síncrotron do instituto –equipamento de última geração que só tem outros três equivalentes em operação no mundo todo.

IMERSÃO

Ao longo dos três anos do curso, os alunos praticamente vivem para estudar. As aulas regulares são de período integral, vão de segunda a sexta das 8h às 18h, com curso de inglês e outras atividades durante a noite. Os estudantes, de todas as partes do país, moram em residências próximas, providenciadas pela escola, e recebem suporte financeiro, além do próprio curso, que é gratuito.

Dali não saem propriamente físicos, químicos, biólogos, matemáticos ou cientistas da computação, mas alunos que têm uma base forte em todas essas disciplinas, com um destaque importante para IA (inteligência artificial), além de uma atenção especial na formação às humanidades, da história à arte.

"O que temos aqui é uma experiência única, não tem outro jeito de descrever", diz Mayllon Emmanoel Pequeno Santos Silva, 20, aluno do quarto semestre que antes estudava em uma escola pública de Maceió (AL).

Gabriela Frajtag, 19, também do quarto semestre, destaca a proximidade com os professores. "E poder usar as instalações do CNPEM é uma das coisas que mais encantam, ter acesso às técnicas de pesquisa já no curso de graduação."

Ela teve ainda a oportunidade de fazer um intercâmbio internacional no Instituto Weizmann de Ciências, de Israel, grande centro de excelência em pesquisa. Lá, passou dois meses conduzindo um projeto sob supervisão de Ada Yonath, vencedora do Nobel em química de 2009.

DISPUTA ACIRRADA

Um passeio pelas instalações, no prédio em que o próprio CNPEM nasceu, décadas atrás, com salas de aula envidraçadas e com paredes cobertas por quadros para uso pelos alunos, que se distribuem em grupos –eles quase sempre trabalham em grupo, uma das ênfases do curso–, mostra um modelo diferente de educação. Com a intensidade e o espírito de comunidade, ele lembra algo como uma espécie de Hogwarts da ciência.

E, a exemplo da escola de Harry Potter, não é fácil chegar lá. O processo de seleção dos alunos é bastante rigoroso e um dos mais disputados do país –em 2024, teve quase 4.000 inscrições, com uma relação candidato-vaga de 97,5.

Para 2025, as inscrições para a próxima turma já estão abertas, pelo site da escola, e vão até 16 de dezembro. São 40 vagas, das quais metade para egressos de escolas públicas. A seleção é feita em três fases: preenchimento de formulário na página da Ilum, nota do Enem e, ao final, para 250 candidatos pré-selecionados, são realizadas entrevistas individuais com a equipe da Ilum, dos quais sairão os 40 escolhidos.

Fazzio diz que os resultados obtidos na Ilum estão servindo de base para um pequeno livro, que ajudará a desenvolver projetos similares em outros cantos do país –possivelmente em torno de outros centros de pesquisa de excelência, para preservar a relação precoce entre ensino e pesquisa que caracteriza o curso.

O que a Ilum oferece

Curso gratuito de bacharel em ciência e tecnologia (3 anos)

Período: integral

Inscrições: pelo site ilum.cnpem.br, até 16 de dezembro

Vagas: 40, sendo metade para egressos da rede pública

Apoio ao aluno: moradia (há exceções para moradores de Campinas); transporte entre a moradia e a escola e para o CNPEM; computador; alimentação; e curso de inglês

O jornalista visitou a escola a convite do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais)

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