A oficialização de Silas Rondeau para a presidência da ENBPar (Empresa Nacional de Participações em Energia Nuclear e Binacional) foi recebida com dupla surpresa no setor de energia.
Primeiro, por não ser um nome do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Segundo, porque gerou de bate-pronto a expectativa de um contraponto na área, onde Silveira, apesar de não ter experiência técnica, tem-se movimentado bem politicamente.
Segundo pessoas que acompanham a área, Rondeau está no grupo que o presidente considera vítima de injustiça da Lava Jato e quer resgatar a memória. Os relatos são que Lula ficou feliz em trazê-lo de volta ao governo nesse terceiro mandado. Rondeau foi acusado de envolvimento em supostas irregularidades na Eletronuclear. Chegou a ter a prisão decretada, mas o mandato foi revogado. Seu caso também não foi julgado e acabou arquivado.
Ligado ao ex-presidente José Sarney, Rondeau é quadro tradicional do MDB, partido que teve forte ascensão sobre a área de energia e busca recuperar posições. Presidiu a Eletrobras quando estatal e também a sua subsidiária Eletronorte. Integrou conselhos de administração de Petrobras, Furnas e Itaipu. Atuou como ministro de Minas e Energia entre 2005 e 2007, no governo de Lula.
Rondeau substitui Luis Fernando Paroli, que esteve no comando desde julho de 2023. Chegou ao posto com apoio do líder do PT na Câmara, Odair Cunha, de Minas Gerais. A expectativa é que Paroli vá para a INB (Indústrias Nucleares do Brasil), que tem o monopólio da produção e comercialização de materiais nucleares.
Pessoas que acompanham o movimento nas estatais contam que Silveira trabalhou por meses na tentativa de tirar Paroli da presidência da ENBPar, fragilizando sua permanência. Nesse meio tempo, entrou em cena o MDB. A ideia de resgatar Rondeau agradou Lula há alguns meses. Era preciso, porém, esperar que o escolhido reorganizasse a vida para voltar ao governo.
Nas últimas semanas, o MME ainda tentou propiciar a saída de Paroli, abrindo espaço para a indicação de um interino. O conselho da ENBPar reagiu, o que deflagrou a oficialização do nome de Rondeau. A percepção interna é que Silveira indicaria Armando Casado, diretor de Finanças da estatal.
O ministro tem sido eficiente em preencher posição no setor. Empossou indicados na ANM (Agência Nacional de Mineração), na CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), na Eletronclear, no ONS (Operador Nacional do Sistema) e nos conselhos da Petrobras e da PPSA (Pré-sal Petróleo).
Na ENBPar, fez o diretor de gestão e sustentabilidade, Leandro Xingó Tenório de Oliveira. Xingozinho, como é conhecido, foi vereador de Coronel Fabriciano (MG) e não tem experiência na área de energia.
Ainda que o posto de Rondeau esteja subordinado ao MME (Ministério de Minas Energia), ele tem canal direto com o presidente, o que o deixa com mais autonomia na gestão da ENBPar e até para tratar de outros temas.
A indicação para presidir a ENBpar foi aprovada pelo conselho da empresa na quarta-feira (20).
A ENBPar foi a estatal criada para substituir a Eletrobras privatizada. É vinculada ao MME e atua como holding que controla a operação brasileira de Itaipu, binacional em sociedade com o Paraguai, Eletronuclear, responsável pelas usinas atômicas do país, a INB (Indústrias Nucleares do Brasil), que tem o monopólio da produção e comercialização de materiais nucleares.
Também é responsável pelos contratos do Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica) e pelos programas Luz para Todos, que busca a universalização da oferta de energia, e Procel, que trabalha a conscientização do uso de energia.