Guerra dos chips: O que ainda separa os EUA da China em IA?

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Sede da empresa de chips Nvidia, em Santa Clara, na Califórnia (EUA)
Sede da empresa de chips Nvidia, em Santa Clara, na Califórnia (EUA) Imagem: Justin Sullivan/Getty Images North America/AFP

Mais uma martelada dos EUA contra China em Inteligência Artificial veio nesta semana. Trump restringiu a exportação da GPU H20 da Nvidia, um chip que havia sido customizado especialmente para o país asiático. A medida passa a exigir licenças especiais para a venda do semicondutor aos clientes chineses.

A decisão se soma a tantas outras que visam atrasar o desenvolvimento tecnológico da China. Desde o primeiro mandato de Trump, passando pelo de Biden, o controle de exportação de chips foi ficando cada vez mais restritivo. Com razão: essa ainda é a principal vulnerabilidade tecnológica do país liderado por Xi Jinping.

A relevância desse ponto ficou evidente recentemente. A Casa Branca abriu uma consulta pública para construir o seu Plano de Ação para IA —explicamos em detalhes sobre isso em um episódio de "Deu Tilt", podcast do UOL. Quase todas as contribuições enviadas pelas big techs tocavam em um ponto em comum: o governo dos EUA deveria estrangular ainda mais o acesso da China aos chips.

Hoje, os chineses dominam a produção científica na área de IA, com mais artigos publicados e citações, e dão um banho nos EUA em números de patentes. A quantidade de dados que os chineses geram também é assustadora, o que, não podemos nos esquecer, são insumos para treinamentos de novas IAs.

Os modelos abertos como DeepSeek e Qwen (da Alibaba) também estão ganhando mercado no mundo todo por oferecer um ótimo desempenho alinhado com um excelente custo.

Então, o degrau que ainda separa os dois países é a indústria de semicondutores e de litografia.

Para entender melhor esse contexto, vou dar uma visão geral do que existe no estado da arte do setor. O trio de ouro do ocidente nessa área é composto por três principais empresas. Prepara-se para a sopa de letrinhas e preste bem atenção:

  • Nvidia: empresa dos EUA que faz o design dos chips mais avançados;
  • TSMC: empresa de Taiwan que fabrica os chips da Nvidia, Apple e outras grandes empresas;
  • ASML: empresa da Holanda que produz a máquina de Litografia Ultravioleta Extrema (EUV) usada na produção dos chips mais avançados.

Todas elas sofreram algum tipo de restrição do governo dos Estados Unidos para que a China não tenha acesso às GPUs ou ao processo de sua fabricação. O objetivo é neutralizar o seu adversário enquanto ainda há tempo.

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Como a China está respondendo?

O país tenta fortalecer o seu próprio ecossistema de produção de semicondutores, ainda que reconheça que vai demorar um tempo para empatar o jogo.

A Huawei, por exemplo, tem a sua GPU Ascend 910C, chipset que a DeepSeek disse atingir 60% da performance da GPU H100 da Nvidia, uma das mais utilizadas pelas big techs americanas no treinamento de IA.

A grande novidade da Ascend 910c, no entanto, é ter diminuído a dependência em relação à TSMC. O novo modelo é produzido internamente na China pela SMIC, que desponta como alternativa chinesa à empresa de Taiwan.

Mas qual tecnologia a SMIC usa?

A indústria de litografia é muito especializada e concentrada, então a SMIC ainda depende das máquinas da ASML.

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No entanto, devido às restrições impostas pelos EUA, a empresa holandesa não pode enviar suas máquinas mais avançadas de litografia ultravioleta extrema (EUV) para a China. Por isso, a SMIC está obrigada a fabricar seus chips com máquinas baseadas em uma tecnologia inferior, a de litografia ultravioleta profunda (DUV).

Este é o motivo de algumas análises estimarem que a SMIC esteja de 3 a 5 anos atrasada em relação à TSMC.

Para contornar essa limitação, a China vem fazendo uma aposta de longo prazo na SMEE (Shanghai Micro Electronics Equipment), fabricante de máquinas litográficas que poderá competir no futuro com a ASML.

O cenário hoje ainda é de um abismo entre a empresa holandesa e a chinesa. Enquanto a ASML consegue trabalhar na escala de 2 a 5 nanômetros (medida que indica o tamanho dos menores elementos que podem ser gravados no chip), a SMEE ainda está em 28 nanômetros.

Porém, a história nos mostra que o avanço tecnológico da China é surpreendente. Muitos pesquisadores e analistas apostam que a China poderá alcançar sua autossuficiência em semicondutores dentro de uma janela de 10 anos.

O controle de exportação dos EUA pode ter um efeito duplo: enquanto atrasa o desenvolvimento de modelos de IA no curto prazo, pode fortalecer a indústria de semicondutores e litografia no médio e longo prazo. Se hoje falamos muito de Nvidia, TSMC e ASML, vamos precisar estar cada vez mais de olho no trio de ouro chinês: Huawei, SMIC, SMEE.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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